São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 1994
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Lição positiva

LUIZ ANTÔNIO DE MEDEIROS

Ao longo de minha campanha para o governo de São Paulo, defendi uma única proposta: a de que será impossível resolver nossos problemas (não só os de São Paulo, mas também os do Brasil) sem uma radical reforma do Estado, o que implica uma reforma administrativa, patrimonial e política profunda.
Fazer, na administração pública, o que os administradores privados modernos estão fazendo em todo o mundo. Unir as técnicas objetivas da reengenharia empresarial com os compromissos éticos e morais da grande política, enfim "reinventar" o Estado.
Esta proposta, ampliada para a Federação, já constava de meu "Um Projeto para o Brasil –A Proposta da Força Sindical", que não difere, em suas linhas básicas, do que está contido nos programas de governo de Esperidião Amin e Fernando Henrique Cardoso.
Ora, o que está prejudicando Amin e quase elegendo FHC, no entanto, não são seus programas de governo, mas a propaganda em torno do Plano Real, que até o momento trouxe benefícios imediatos, concretíssimos, para a vida e a tranquilidade dos cidadãos.
Admito não ser fácil traduzir em palavras simples a complexa idéia de que é preciso reformar o Estado para que ele funcione e possa oferecer ao cidadão os serviços que tem a obrigação de oferecer. O eleitor quer ouvir propostas para a solução de seus dramáticos problemas, mas contraditoriamente não presta atenção nelas, quando são feitas.
Infelizmente, e este é o nosso grande drama, são mais sensíveis à propaganda que bate na mesma ladainha: promessas vagas de mais emprego, mais saúde, mais escola, mais segurança.
Embale-se tudo em uma boa música e na imagem construída ao longo de uma esperta vida pública, e está feito o negócio: governos preservam-se ou são substituídos por outro igual.
Todos nós sabemos que, sem a reforma do Estado, nada ou muito pouco se poderá fazer pelo cidadão além do que se faz, e mal. Não há nem haverá recursos, pois tudo é consumido no desperdício, na manutenção dos velhos esquemas políticos fisiológicos, na corrupção.
Acreditei, quando me afastei da presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo para entrar na política, que poderia convencer os eleitores com a mesma facilidade com que, nas portas de fábrica, convenço os trabalhadores do que pode ser melhor para eles.
Quanta ilusão: há infinitamente mais casas de eleitores do que portas de fábrica, e levar a todos a nossa mensagem implicava gastar recursos milionários aos quais não tivemos acesso.
Nossa candidatura nasceu no contexto de uma aliança cujos resultados se revelaram pífios, pois o PPR não só não assimilou nossa aliança como parece não ter entendido a importância de sua extensão estratégica.
Por isso, considero que este processo possa ser avaliado por mim e pelo prefeito Paulo Maluf. E também pelo meu candidato a presidente da República, Esperidião Amin, e pelo meu vice, Salim Curiati, pessoas por quem passei a nutrir a mais profunda admiração.
Encerro minha campanha, que foi sustentada basicamente pelos trabalhadores, pelos meus amigos, pela militância que não me abandonou e por empresários modernos, com a consciência tranquila do dever cumprido.
Apesar das adversidades, quero continuar merecendo o voto de todos aqueles que acreditam na necessidade da reforma do Estado e da verdadeira ética na política.
Faço questão de reiterar que, apesar das pressões, tive a coragem de pôr o dedo na ferida da questão ética quando revelei à opinião pública que o até então insuspeito candidato Covas, tido como vestal da moralidade, pode estar agindo como qualquer outro político viciado.
Pela omissão do candidato em responder a tais denúncias e por sua má vontade em ajudar a Justiça a esclarecê-las com rapidez, ficar no ar o fio da suspeita. Por muito menos outros caíram de seus postos, julgados pela opinião pública e, mais tarde, pela Justiça.
Ética, trabalho e reformas. Estas continuarão sendo minhas bandeiras futuras. Não entrei na política só para ter um mandato. Entrei para defender uma bandeira, que guiará meus próximos passos.
É por isso que, ao final desta jornada, posso afirmar tranquilamente que dela saio com um saldo bastante positivo. Em poucos meses de campanha eleitoral, aprendi mais sobre política do que em dez anos de sindicalismo.

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