São Paulo, quarta-feira, 28 de setembro de 1994
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US$ 9 bi = 37,8 milhões

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – A fórmula do título acima seria a explicação mais rápida e sucinta para a vitória de Fernando Henrique Cardoso na eleição presidencial, hoje uma virtual certeza.
A primeira cifra, correspondente a US$ 9 bilhões, representa o imposto inflacionário que teria deixado de ser pago pela sociedade, em função da brusca queda da inflação. Antes mesmo da introdução do real, a consultoria MBA (Mendonça de Barros Associados, do economista tucano José Roberto Mendonça de Barros) tentou adivinhar qual o valor global do tal imposto inflacionário. Ou seja, o quanto de dinheiro era corroído pelo brutal galope da inflação.
Chegou a US$ 21 bilhões, que, em grande medida, eram apropriados pelos bancos. Como os bancos não são exatamente entidades benemerentes, a MBA deduziu que eles tratariam de capturar de alguma outra forma (cobrança de serviços, por exemplo) o que perderiam com a queda da inflação.
A partir daí, a consultoria chegou aos US$ 9 bilhões que, em tese, passaram a permanecer em poder do público em geral com uma inflação baixa.
A segunda cifra corresponde à votação que Fernando Henrique Cardoso, o pai do real, tende a ter na próxima segunda-feira. Aí, o cálculo é meu: se votarem 84 milhões dos 94 milhões inscritos e FHC ficar com 45%, leva os 37,8 milhões que foram para o título.
É claro que se trata de um raciocínio extremamente simplificado, entre outras razões pelo fato de que nem todos os votos de FHC serão filhos diretos do real. Mas, com alguma pequena alteração numérica, suspeito que a fórmula do título fornece o essencial das explicações para o resultado eleitoral hoje possível de se imaginar.
Em contrapartida, fornece também o tamanho da dívida que FHC assume com o eleitorado. Se voltar a inflação, voltarão a ser desapropriados esses US$ 9 bilhões que deixaram de ser pagos na forma de imposto inflacionário. Ninguém se deixa tungar passivamente, ainda mais nesse patamar de dinheiro.
Pior: quando o eleitorado der por extinto para sempre o imposto inflacionário, vai querer mais, muito mais, e depressa. Se FHC não entregar, desmoraliza o seu governo.

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