São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 1994
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Governo conterá entrada de capital externo

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Logo depois das eleições, o governo federal vai adotar medidas para conter o ingresso excessivo de capital estrangeiro no país, que, só no primeiro semestre do ano, chegou a US$ 7,324 bilhões.
As providências serão tomadas em conjunto pela atual equipe econômica e pelo grupo a ser designado pelo provável futuro presidente, Fernando Henrique Cardoso, para conduzir a transição até a posse, em 1º de janeiro.
Não está definida ainda que forma tomarão as medidas de contenção ou, ao menos, a Folha não conseguiu apurar os detalhes.
Mas o próprio Fernando Henrique deu uma pequena pista, em entrevista coletiva concedida ontem aos jornalistas estrangeiros baseados no Brasil ou enviados para a cobertura da eleição.
FHC mencionou o Chile como exemplo de país que adotou medidas de contenção ao excessivo afluxo de recursos externos. No Chile, a providência tomada foi no sentido de estimular capitais de permanência mais longa, punindo, em consequência, os recursos de curto prazo, em geral especulativos.
O ingresso excessivo de capital externo tem duas consequências negativas, uma conjuntural e outra de efeito mais duradouro. De um lado, deprime a cotação do dólar, em função da abundância de oferta.
A médio prazo, este é o menor dos problemas, ao menos na visão da atual equipe econômica. Seus integrantes acreditam que, com o aumento das importações, o país devolveria ao exterior os dólares que estão entrando, sem pressão maior sobre a base monetária.
O que preocupa FHC é a questão da relação cambial. Um real sobrevalorizado dificulta as exportações. Tanto é assim que, esta semana, o Banco Central já interveio no mercado para evitar que a paridade dólar/real fosse inferior a RS$ 0,85 por dólar.
Para o futuro imediato, a perspectiva, no entanto, é de um aluvião de dinheiro externo, o que já está ocorrendo desde o ano passado mas se intensificou em 94. Os US$ 7,324 bilhões que entraram no primeiro semestre superam os US$ 7,071 bilhões de todo o ano de 93.
Para 1995, a equipe econômica prevê algo em torno de US$ 25 bilhões ou o equivalente a 6% do PIB (Produto Interno Bruto, medida da renda nacional). Se essa massa de dinheiro vier sem qualquer controle, a cotação do dólar pode simplesmente desabar.
É por isso que o governo tomará providências imediatamente após a eleição, já em combinação com a equipe de transição. Não deve haver dificuldades de entendimento dado que a equipe econômica atual foi toda ela composta por FHC quando ministro da Fazenda e será mantida, na totalidade, no futuro governo.
Essa já é uma decisão tomada. Só sairá quem não quiser ficar.

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