São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 1994
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A abertura é inevitável

LUÍS NASSIF

Há uma certa ilusão no ar, por parte de alguns segmentos empresariais, de que a redução das tarifas de importação é movimento fortuito, visando apenas levar a economia até às eleições.
Tanto a redução tarifária quanto a valorização do câmbio (que torna mais caro exportar) são caminhos sem volta, por uma questão básica de sobrevivência de políticas econômicas.
Inflação é fenômeno de variação de preços –não de nível de preços em si. Ao reduzir tarifas de importação e ao valorizar o câmbio, caem os preços de todos os produtos internacionalizados. Se se volta ao sistema anterior, aumentam os preços, o que gera inflação. Na hora de sair do conceitual e debruçar-se sobre o concreto, que presidente ou ministro da Fazenda vai patrocinar esse jogo?
Este mesmo raciocínio vale para o câmbio, com um agravante.
Nos anos 70, a necessidade de dólares do país era suprida por empréstimos e investimentos externos. Nos anos 80, por superávits comerciais. Agora, retornam os empréstimos e investimentos e o superávit comercial continua imenso.
É muito dólar junto, derrubando os preços da moeda por mera questão de aumento da oferta.
Há duas maneiras de equilibrar o jogo. A primeira –de o Banco Central emitir reais para voltar a comprar dólares– é fisicamente tão impossível quanto o casamento do elefante com a formiga.
A segunda alternativa será flexibilizar a legislação, permitindo que o setor privado adquira mais dólares. Mesmo assim, não será suficiente para restabelecer-se o equilíbrio anterior. A consequência será a valorização do real, reduzindo os superávits comerciais.
Uma política industrial eficiente permitirá reduzir os superávits sem reduzir as exportações. Mas a valorização do real continuará inevitável.
Restam os seguintes passos ao empresário brasileiro afetado por este processo:
1) Posto que o estupro é inevitável, não relaxe. Concentre esforços em pressionar por uma boa legislação antidumping, mas antes do fato consumado. Depois de reduzida a tarifa não haverá comprovação de dumping que faça o governo voltar atrás.
2) Prepare-se para nova rodada de redução de despesas e de aumento de eficiência em suas empresas.
3) Aproveite a abertura para buscar no exterior componentes mais baratos e parcerias.

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