São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 1994
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Carlos Lyra planeja reconstruir entidade no novo prédio da UNE

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

O compositor Carlos Lyra está negociando com o presidente da UNE, Fernando Gusmão, a reativação do CPC no prédio a ser construído no terreno da antiga sede da entidade, na Praia do Flamengo, no Rio.
"A volta do CPC é importante e natural porque a cultura brasileira está entregue às baratas", diz.
Lyra foi um dos fundadores da entidade, ao lado de Oduvaldo Vianna Filho, Ferreira Gullar e outros. O objetivo do CPC, segundo o músico, era integrar a arte na realidade social e buscar raízes nos artistas populares: "Não se tratava de protesto ou panfleto. Estávamos contentes e fazíamos parte de um surto desenvolvimentista. Era arte feita pela e para a classe média. Daí eu ter sugerido que fosse batizado de Centro Popular de Cultura e não Centro de Cultura Popular."
Lyra acha que se insinuam hoje condições ideais para o ressurgimento das idéias do CPC. "Naquele tempo, como hoje, éramos campeões mundiais e o plano de JK dava certo, como parece ser o Plano Real. É impossível fazer revolução no subdesenvolvimento."
Ferreira Gullar aprecia a idéia do retorno. Um de seus textos de combate, "A Função do Artista", de 1964, roi republicado pelo CPC 2. Gullar defendia a arte "engajada" contra a "alienada".
O trabalho foi estudado pelos membros do CPC 2 (leia texto ao lado), embora Gullar o considere ultrapassado. "Os jovens precisam encarar esse texto como datado", diz. "O CPC errou ao subestimar a qualidade estética da obra de arte e fracassou ao tentar levar a arte para a massa. Mas deixou um saldo positivo que pode ser seguido pela nova geração: despertou o interesse da intelectualidade pela temática e realidade brasileiras."
O poeta aconselha os jovens a retomarem a experiência com visão crítica. "A situação do país é outra. Acho positivo o novo CPC no sentido de levar o estudante universitário e secundarista a participar de maneira intensa da atividade cultural."

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