São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 1994
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Parlamento haitiano adia votação de anistia

CLÁUDIO JULIO TOGNOLLI
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Cercado por quase 2.000 fuzileiros navais e vigiado por quatro helicópteros Blackhawk, o Parlamento haitiano foi reaberto ontem às 14h.
Compareceram ao plenário 54 deputados e 11 senadores. Decidiram postergar a votação do projeto da anistia. Os deputados pró-Jean-Bertrand Aristide voltaram atrás e passaram a defender a anistia restrita.
O embaixador norte-americano, Willian Swing, afirmou que os EUA "apóiam a anistia e gostariam que o homem-forte do país, general Raoul Cedras, renunciasse e deixasse o país".
Alguns deputados se negaram a entrar no plenário quando notaram que a casa estava cercada.
"Não vou entrar para votar com a presença dos EUA no local", disse à Folha o deputado Jean Robert Martinez, da Frente Nacional pela Reconstrução da Democracia.
O Partido Social Democrata, um dos principais sustentáculos de Aristide, optou pela anistia somente ao golpe de Estado ocorrido em setembro de 1991.
Outro famoso braço-direito de Aristide, o social-democrata Serge Saint Louis, no exílio até semana passada, disse que "a anistia não pode ser votada porque não consta da Constituição haitiana".
Para o deputado Ernest Pedro Casseus, do Movimento de Organização Popular, "todos sabem que nesse país nós, os deputados, não temos poder nenhum. É uma coisa que tem que ser votada com a presença de Aristide".
Embora houvesse quórum para a votação (42 deputados), a sessão foi encerrada com a leitura da correspondência atrasada.
Espera-se que a votação da anistia não ocorra antes de 15 de outubro, quando o presidente Jean-Bertrand Aristide deve voltar ao país.
Antes da data, os generais Raoul Cedras e Phillip Biamby e o coronel Michel François continuarão negociando com o Exército dos EUA para que tenham uma saída honrosa, rumo a Miami.
Cedras tem se reunido duas vezes por dia com o comandante-supremo das tropas americanas, o general Henry Hugh Shelton.
As tropas dos EUA prenderam ontem na ilha de Gonaive (15 km de Porto Príncipe) 45 "attachés", que são os informantes ilegais da polícia nacional –responsável pela tortura e morte de 3.000 haitianos nos últimos quatro anos.
Para conter a presença dos "attachés", foram colocados nas ruas mil homens da polícia do Exército dos EUA, com a missão de evitar o confronto entre os informantes e as tropas regulares do Exército.
Às 15h30, um manifestante que gritava pela volta de Aristide foi assassinado a tiros, disparados por um "attaché", diante do Palácio presidencial, em Porto Príncipe.
Ontem chegou a 18.262 o efetivo do Exército americano em solo haitiano. Os EUA já enviaram 4.934 toneladas de material bélico e 100 mil galões de combustível.

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