São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 1994
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Balanço preliminar

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – A acreditar nas pesquisas, as eleições estão decididas e já se pode fazer os balanços. Durante a campanha, entrevistei pessoalmente quatro dos principais candidatos: Fernando Henrique, Lula, Quércia e Brizola. Havia marcado um encontro com Amin, mas viajei e, quando voltei, encontrei a situação definida.
A impressão pessoal dos candidatos que me honraram com o seu tempo não podia ser melhor. Se a questão fosse apenas escolher entre os quatro, e se dependesse só de mim a escolha, eu faria uma espécie de bingo: botava o nome deles num saco, mais o de Amin, arranjava um menino de asilo para, de olhos fechados, meter a mão no saco e tirar o nome. Acho que estaríamos bem servidos.
O diabo é que um presidente da República não é mais a expressão de uma personalidade, de uma vontade ou de uma biografia. Ele se torna a expressão de grupos. Na liturgia democrática, o presidente deveria expressar o seu partido, mas não existem partidos entre nós: há grupos, muitas vezes confundidos com quadrilhas.
Citam o PT como exceção. Mas se trata de um partido tão partido que acaba sendo uma espécie de nação à parte. Lula chegou esfalfado ao final da campanha porque gastou metade de suas energias tentando administrar os conflitos internos do PT. O mesmo pode ser dito de Quércia, candidato do maior partido nacional. O PMDB veio literalmente em frangalhos, estourado como um lança-perfume não metálico.
Brizola é também um caso à parte, não como partido, mas como personalidade. É acusado de caudilhismo. Mas quem votar nele sabe ao menos o que está fazendo e em quem está votando.
O enigma do páreo é justamente o preferido pelas pesquisas. Intelectual, com um passado de contestação às forças que estão no poder há 30 anos, surge como rio caudaloso que recebe detritos de vários e suspeitos afluentes. Em torno dele se agruparam os mesmos setores que criaram a obscena concentração de renda e a elevada taxa de miséria absoluta. Sabemos quem foi FHC. Resta saber o que ele será.

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