São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 1994
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'Não há como atrair turista sem promoção'

DA REPORTAGEM LOCAL

Maiores investimentos em promoção e criação de transporte rápido e mais barato, como os vôos fretados, foram algumas da sugestões dos debatedores para vender o Brasil no exterior. Leia nesta página os principais trechos do debate.
"O governo deve cuidar da infra-estrutura básica, da melhoria da mão-de-obra e da imagem do Brasil no exterior.
Caio Luiz de Carvalho, secretário nacioanal de Turismo
O tripé para atrair turista se constitui de infra-estrutura, transportes e divulgação.
Carlos Sodré, diretor-executivo da CTI Nordeste."
Tasso Gadzanis: "O Brasil lá fora não tem imagem nenhuma, é um ilustre desconhecido. Ele tem uma má imagem junto aos operadores europeus e aos americanos. Eles são obrigados a saber o que acontece no exterior. Mas, se vocês saírem da rua 46, onde ficam os brasileiros em Nova York, Brasília sendo a capital de Buenos Aires. Dizemos que é a imprensa orquestrada, a imprensa internacional que estão contra o Brasil. Eu discordo. Há uma empresa que se chama Associated Press que vende fotos. O que vende mais? Os 50 corpos da Candelária ou uma velhinha recebendo uma rosa de uma criança? Vende é a foto da Candelária. É negócio, não há orquestração.
Não há investimento. Mas, os outros investem. A ilha de Aruba investiu aqui e virou coqueluche. Cancún chegou aqui há três anos e investiu US$ 500 mil.
A nova moda serão as Ilhas Virgens, nos EUA, porque já nomearam um representante aqui. Nós não fazemos isso e quando o fazemos, o fazemos mal e porcamente.
A Jamaica, que tem a mesma área geográfica do Guarujá, recebe 2,8 milhões de turistas por ano e gastou, em 93, US$ 24 milhões. Em 93, o Brasil conseguiu US$ 50 mil e anunciou uma meia página num dos jornais mais importantes dos EUA, o "The Wall Street Journal". Então, 14% da página tem a fotografia do presidente da Embratur e 16%, um mapa mambembe escrito SP, MT, MS, PA. Assim gastaram US$ 50 mil."
Caio Luiz de Carvalho: "Não há conscientização sobre o que é a indústria de viagens no Brasil. A culpa é da incompetência governamental, de pessoas que se locupletaram viajando com mordomias, ocupando cargos de presidente da Embratur, do setor privado, que não se municiou de estatísticas com credibilidade para sensibilizar os que decidem e da imprensa.
Um trabalho da Organização Mundial de Turismo (OMT) apontou 52 itens da economia brasileira impactados por essa indústria. Se o Brsil hoje está em 45º lugar no "ranking" da OMT em termos de recebimento de estrangeiros, ocupa o 10.º lugar em faturamento direto, indireto no turismo interno e externo com um faturamento previsto para 94 de US$ 45 bilhões, gerando US$ 7,8 bilhões de impostos diretos e indiretos pessoais e 5,8 milhões de empregos.
A grande imprensa só fala de turismo na alta temporada, quando existe "overbooking" (excesso de passageiros num vôo) e mau tratamento de turistas. Os suplementos de viagem não têm espírito crítico, se destinam a divulgar os produtos e as ofertas das operadoras.
Nós temos que aproveitar os bacharéis em turismo e o governo deve cuidar da infra-estrutura básica, da melhoria da mão-de-obra e da imagem do país no exterior.
A OMT recomenda que 2% do que o país arrecada com o turismo deve ser reinvestido em promoção. O Banco Central apontou que o país recebeu cerca de US$ 1,5 bilhão em divisas. Deveríamos ter US$ 30 milhões para investir.
A Espanha continuou em primeiro lugar em 93 como o país que mais gastou em promoções, US$ 77,6 milhões. O Brasil classificou-se em 42º lugar, tendo gasto US$ 4,7 milhões. A Aruba investiu em 93 aqui US$ 2 milhões."
Carlos Sodré: "O pouco que se conhece do Brasil, se conhece com uma imagem negativa, transmitida através da imprensa, principalmente da européia, que explora alguns pontos negativos de violência. Mas é pequena essa repercussão. O mais importante é que não existe a imagem. O Nordeste, então, é totalmente desconhecido.
Para trazer mais turistas do exterior, é necessário um tripé que se constitui de infra-estrutura, transportes e divulgação.
No caso do Nordeste, já temos uma infra-estrutura. É precária, mas adequada a alguns mercados.
O segundo ponto do tripé é o transporte. Não se faz mais turismo de pinga-pinga. Hoje o turismo é lazer. O viajante quer ir a um ou dois no máximo três lugares. Isso significa transporte fácil. Não se concebem mais conexões. Por isso é que nós temos os voos fretados, que são a grande alternativa nos mercado externo e interno. Se nós quisermos trazer estrangeiros, temos que equacionar o problema dos transportes, com transporte rápido e custo acessível comparado ao internacional.
O terceiro aspecto e a divulgação, que deve ser regionalizada. Não podemos insistir em vender o Brasil como um todo, porque aí nós não estaríamos o vendendo para turistas, mas para atletas. Para um país com essa extensão é muita pretensão querer que ele venha e numa só viagem o conheça inteiro".
Trajano Ribeiro: "Temos o produto turístico mais diversificado para o mercado internacional, porque temos todos os tipos de clima que um turista pretende usufruir e a maior riqueza em termos de bens turísticos naturais.
Ao lado dessa oferta, temos talvez a maior oferta de mal-estar social do mundo. Mas isso também não é fator que impeça a vinda do turista, porque há países que têm o mesmo problema.
O Brasil não está à venda como produto turístico, porque nós temos a absoluta capacidade de investir num ano em propaganda e marketing no exterior quatro vezes menos do que Aruba investiu no Rio em 1992.
Em 92, investimos na Argentina US$ 1 milhão. Isso garantiu a ocupação praticamente plena em julho e de 85% em janeiro. Gastamos US$ 1 milhão e o retorno foi de US$ 109 milhões.
Vivemos lutando para exportar coisas que têm que ser transportadas, quando podemos exportar coisas que não precisam ser transportadas. Nós vendemos, ficamos com o produto e podemos vender várias vezes para diferentes pessoas o mesmo produto.
Nos EUA, o governo não precisa investir, porque cada um dos países emissores o faz. No Brasil há propaganda de excurções para Miami ou Nova York feita por nós. Ninguém vende o nosso produto lá fora. Se o governo não vender, ninguém o fará."

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