São Paulo, segunda-feira, 2 de janeiro de 1995
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Ministério traz 'Jatenes' e outras marcas

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

É um ministério de amigos, de notáveis (ou "Jatenes"), de amigos notáveis e do loteamento político entre os partidos.
Os amigos, como era previsível, foram os primeiros a serem confirmados. O primeiríssimo foi Paulo Renato Souza, que, no entanto, mudou de lugar e passou do Planejamento para a Educação.
Os notáveis, supostos ou reais, vieram depois. O pessoal de FHC inclui na lista de notáveis o ministro da Previdência, Reinhold Stephanes, por mais que a mídia, de modo geral, o tivesse tratado como parte da cota do PFL.
"O Stephanes seria ministro mesmo que pertencesse ao PC do B", diz Raphael de Almeida Magalhães, um dos amigos de FHC que não teve cargo no governo.
O ministro do Planejamento, José Serra, é o mais emblemático da cota dos amigos notáveis. Que é notável, poucos duvidam, tanto que foi "'ministeriável" em todas as sucessões na área econômica desde que Tancredo Neves ganhou a eleição biônica de 1985.
Que é amigo, agora não pode haver a menor dúvida, porque FHC se viu forçado a deslocar outro amigo, Paulo Renato, para abrir espaço na equipe econômica, única área em que Serra aceitaria um posto.
O caso Serra dá margem, mesmo entre os mais próximos do presidente, a duas interpretações não necessariamente excludentes.
Uma é a de que FHC preferiu ter Serra perto de si, em vez de deixá-lo longe, no Congresso e ainda por cima magoado.
A outra é a de que a equipe econômica queria ter alguém com densidade política, conhecimento econômico e disposição para negociar as reformas que comporão o ajuste fiscal.
"Você acha que o Gustavo Franco teria condições de negociar com os governadores a questão das dívidas estaduais ou com os congressistas a reforma tributária?", foi a pergunta que a Folha ouviu entre amigos de FHC.
O que deixou mais dúvidas, mesmo entre estes, é o lado loteamento político do novo gabinete.
Todos admitem que o governo precisa mesmo de uma maioria sólida para poder aprovar as reformas constitucionais.
Mas alguns têm dúvidas quanto à obtenção dessa maioria pelo simples fato de se ter incorporado ao ministério PFL, PTB e PMDB.
"Os partidos têm clivagens internas em relação a quase todos os temas polêmicos", argumenta, por exemplo, o cientista político Luciano Martins.
Por isso, Martins, como outros amigos do presidente, temem que, mesmo com amigos, notáveis, amigos notáveis e loteamento, o governo se veja obrigado a negociar caso a caso com o Congresso.

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