São Paulo, sexta-feira, 6 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Captação com CDI subiu 307%

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

No primeiro trimestre do real, entre 30 de junho e 30 de setembro último, o saldo de depósitos interfinanceiros (CDI) do Banespa subiu 307%, passando de US$ 1,08 bilhão para US$ 4,4 bilhões.
Os depósitos interfinanceiros refletem a captação de recursos no mercado interbancário, onde os bancos emprestam dinheiro entre si com lastro em CDIs. Em dezembro de 1993, seu saldo era de US$ 492 milhões, equivalente a 7,2% dos depósitos totais, no valor de US$ 6,8 bilhões.
A participação dos recursos captados com CDI no volume total de depósitos do Banespa subiu para 13,5% em 30 de junho de 1994 e para 33,3% no trimestre seguinte.
Esses indicadores mostram como o banco passou a depender do dinheiro que a Gerof (Gerência de Operações Financeiras) do Banco do Brasil captava junto à rede de bancos privados para fechar seu caixa diariamente, pagando juros acima da média do mercado, até sofrer a intervenção do Banco Central no último dia 30.
Segundo estimativas do mercado financeiro, o rombo tinha alcançado a cifra de aproximadamente R$ 6 bilhões em dezembro, dos quais R$ 3,8 bilhões estavam sendo bancados pelo BC através do redesconto.
A situação de insolvência do Banespa contrasta com o lucro líquido de US$ 213,4 milhões apresentado em seu balanço de 30 de setembro de 1994. Ele equivale a uma rentabilidade de 11% sobre o capital próprio (patrimônio líquido) de US$ 1,9 bilhão.
A qualidade desses lucros, porém, é questionada pelo analista Carlos Daniel Coradi, presidente da EFC Engenheiros Financeiros & Consultores. Isso porque o banco vem contabilizando como receitas os juros de empréstimos considerados "podres" –de recebimento improvável– que são renovados a cada vencimento.
Se tais empréstimos, em vez de renovados, fossem executados judicialmente e lançados como "créditos em liquidação", como costuma ocorrer nos bancos privados, as perdas correspondentes teriam que ser registradas. Mas não é o que vinha ocorrendo.
Segundo Coradi, pelo menos desde dezembro de 1993, o desequilíbrio financeiro do Banespa estava claramente caracterizado. Seu índice de liquidez corrente era de apenas 0,46, contra a média de 0,95 do sistema bancário brasileiro.
Esse índice indica que, para cada R$ 1,00 de dívidas com prazos inferiores a um ano, o banco tinha apenas R$ 0,46 em caixa e créditos a receber.

Texto Anterior: 11 mil servidores devolvidos serão demitidos
Próximo Texto: Economia chega a R$ 500 mi
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.