São Paulo, sexta-feira, 6 de janeiro de 1995
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'Ouro dos Tolos' mostra a angústia gerada pelas mudanças na Rússia

EDUARDO SIMANTOB
DA COORDENAÇÃO DE ARTIGOS E EVENTOS

Filme: O Ouro dos Tolos
Direção: Andrei Konchalovsky
Produção: França/Rússia, 1994
Elenco: Inna Churikova, Alexander Surin, Guennadi Iegoritchev
Estréia: hoje, no cine Belas Artes sala Aleijadinho
O filme "O Ouro dos Tolos", que estréia hoje em São Paulo, marca a volta do diretor Andrei Konchalovsky a sua Rússia natal.
Após mais de dez anos trabalhando nos EUA, o diretor de "Os Amantes de Maria" e "Expresso para o Inferno" dá continuidade ao seu segundo longa-metragem, "A Felicidade de Asya", de 1967.
O filme retratava a vida de camponeses de uma fazenda coletiva (kolkhóz) no interior da ex-União Soviética e foi banido por 20 anos pela censura local.
Konchalovsky reuniu o elenco original colocando-o no novo cenário criado pela perestroika e pelo fim do regime socialista, realizando uma triste piada em que seus personagens se debatem entre os ranços da defunta moral coletivista e as exigências cotidianas da implantação de um capitalismo sem lei.
No entanto, as contradições ideológicas geradas por modos de produção antagônicos são secundárias frente a tragédias simplesmente humanas, como a inveja, o vício e o comodismo.
A personagem central Asya (Inna Churikova) dificilmente consegue manter relacionamentos estáveis com seus pares. Abandonada pelo único filho, assediada pelo neo-capitalista Churikov e aporrinhada pelo ex-marido alcóolatra, Asya encontra apenas em sua galinha Ryaba o ouvido sereno para quem dirigir seus desabafos.
A instalação de uma madeireira no local cria a tensão básica da história. A revoltada Asya, saudosa dos tempos de Brejnev, lidera então seus camaradas numa campanha pelo fechamento da fábrica.
O medo do novo é o principal motor desta revolta, rapidamente amainada pela vodca. A reação dos camponeses aos signos da mudança –eletrodomésticos, banheiros modernos– é caricatural, como os próprios personagens.
Mas o tom cômico, se passar por uma análise mais retida, se converte facilmente num sorriso amargo. Com a passagem de uma ordem quase absoluta para uma democracia, que no filme significa o caos, Konchalovsky vê seus conterrâneos perderem todos os parâmetros de moralidade e civilidade.

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