São Paulo, sábado, 7 de janeiro de 1995
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Que tal governar?

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – O candidato Fernando Henrique Cardoso dizia sempre e o presidente eleito Fernando Henrique Cardoso repetiria depois: "O Brasil tem pressa".
Parece que o presidente em funções FHC esqueceu o que escreveu, digo, o que disse como candidato e presidente eleito. Veja-se, para começar, a reunião ministerial ontem iniciada, destinada, pelas versão oficial, a "unificar o discurso".
Ponto um: essa reunião deveria ter se realizado no final de dezembro, quando todos os ministros já estavam indicados e não uma semana depois da posse. Ponto dois: que diabo de unificação de discurso é essa? O discurso não estava todo contido no livreto "Mãos à Obra", a bíblia da campanha, aprovada pelo eleitorado, conforme, aliás, repete sempre o presidente?
Veja-se, também, a megareunião convocada para dia 26 (e já ameaçada de cancelamento) com todos os parlamentares da bancada governista. Serão mais de 400 pessoas reunidas, o que é um passo decisivo para transformá-la em mero convescote social.
Também nesse caso, a reunião deveria ter sido realizada antes do início do governo. Afinal, todos os parlamentares foram eleitos em outubro. Vamos admitir que muitos estivessem empenhados nos segundos turnos de seus Estados e não pudessem aparecer em Brasília. Mas, a partir de 15 de novembro, qualquer dia seria bom para juntar essa turma e dizer a que veio o novo governo.
Mas, pelo jeito, prefere-se jogar um mês inteiro fora, em discussões, debates, seminários, reuniões. Ação mesmo, até agora, não se conhece uma única que valha a pena gastar papel com ela.
Uma semana pode ser pouco para a cobrança. Mas não se dizia que a vantagem de vencer no primeiro turno era ter mais tempo para montar o governo?
Eu até que me divirto muito nas reuniões que se fazem na Folha. Mas a gente bota o jornal na rua todo santo dia seguinte. Se bom ou ruim, o público julga. Somos pagos para isso, assim como o governo é pago para botar o seu bloco na rua e não para se transformar em uma espécie de simpósio permanente.

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