São Paulo, sábado, 7 de janeiro de 1995
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Fernando Henrique está certo

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – O presidente Fernando Henrique Cardoso fatalmente será acusado de criar uma casta de marajás, com salários acima de R$ 7 mil. Ele vai sofrer desgaste, é capaz de gerar ações na Justiça, em meio a brigas e ciumeiras do funcionalismo. Mas o presidente está certo.
Na busca de eficiência, o presidente e seus ministros convidaram profissionais qualificados para assessorá-los em funções estratégicas. É gente que ganharia ótimos salários na iniciativa privada. O problema é que o governo não tem como remunerá-los.
Daí se pensa numa complexa fórmula para gratificá-los até com R$ 6 mil mensais. O que, óbvio, vai gerar gritaria no funcionalismo –e, até, com certa razão. Um general não vai gostar de ganhar menos do que um secretário-executivo de ministério.
O problema é que, com salários tão baixos, o governo só pode atrair basicamente dois tipos de indivíduos: incompetente ou corrupto. Entra-se num círculo vicioso: o governo paga mal, oferece serviço ruim e, portanto, ninguém defende a elevação dos salários porque, afinal, o serviço é ruim.
Se o governo deseja eficiência, deve oferecer melhores salários –a exemplo do que fazem as empresas privadas. Do contrário, a tendência é a mediocridade geral.
É uma reforma gigantesca que, necessariamente, passa pelo enxugamento da máquina, corte de desperdícios, promoções por méritos, reciclagem permanente.
É uma reforma tão gigantesca como urgente. Por exemplo: se não melhorarem as condições de vida dos agentes de saúde e professores do ciclo básico, jamais se conquistará uma taxa razoável de cidadania.
Essa reforma pode (e deve) começar pela contratação provisória de um núcleo de elite.
PS – Uma voz insuspeita. Em contato ontem com esta coluna, o deputado Roberto Campos advertiu que as pressões para mudança do câmbio é um coro orquestrado pelo lobby dos exportadores. Segundo ele, muito pode-se fazer antes de desvalorizar o real: financiamento aos exportadores, mudança em tributos, barateamento do custo dos portos. A desvalorização, segundo ele, jogaria o país no círculo vicioso da inflação.

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