São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995
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Governo vai suspender investimentos

AMÉRICO MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário de Planejamento de São Paulo, André Franco Montoro Filho, 50, afirma que o Estado não vai fazer nenhum tipo de investimento em obras de infra-estrutura durante a gestão do tucano Mário Covas.
Segundo ele, o governo vai tentar fazer parcerias com várias empresas. A iniciativa privada disputa concessões, faz os investimentos e administra os serviços. Ao Estado caberá apenas fiscalizar a ação das empresas.
Montoro Filho foi relutante em relação à privatização, dizendo que o Estado não quer ser pressionado a "vender mal". A seguir, os principais trechos da entrevista.
Folha - Com uma dívida de cerca de US$ 32 bilhões, o Estado vai fazer algum tipo de investimento neste ano?
André Franco Montoro Filho - Eu acho muito difícil.
Folha - Quando o Estado deve retomar os investimentos?
Montoro Filho - Investimento em infra-estrutura, em coisas do tipo... o Estado nunca vai retomar estes investimentos. Essas coisas vão ter que ser feitas pela iniciativa privada. Não há recursos para isso.
Folha - Isso deve persistir por todo o mandato de Mário Covas?
Montoro Filho - Isso vai para o próximo milênio. A grande mudança, evolução em termos de posição do governo, é no sentido de o Estado ficar com a função de regulamentação, de articulação, de dar a concessão. E os investimentos são feitos pelo setor privado, nessa área de infra-estrutura.
Esse modelo anterior de o Estado assumir todos os investimentos faliu. Criaram-se corporações gigantescas, ineficientes, ao lado de ter inviabilizado financeiramente todo o aparato estatal.
Folha - Mas em que momento a iniciativa privada vai ser chamada para os investimentos?
Montoro Filho - Imediatamente. O governador Mário Covas já definiu que esses novos investimentos em infra-estrutura, em termoelétricas, rodovias, etc. vão ser feitos pelo setor privado.
Folha - E o Estado não vai investir nada?
Montoro Filho - Nada. Ele vai procurar investir na qualidade de ensino, na qualidade da saúde, na melhoria da segurança. Todos os recursos do Estado deverão ser direcionados para a melhoria dessas áreas.
Folha - O Estado já paralisou 270 obras, tem dificuldades para pagar o funcionalismo e está cortando investimentos. Essa paralisia do Estado vai durar muito tempo?
Montoro Filho - Olha... Não é paralisia do Estado. O Estado continua funcionando. Os serviços públicos continuam sendo efetuados. O que se fez foi contenção das obras que tinham sido contratadas mas não tinham sido iniciadas. E se sabe lá se eram prioritárias. O Estado não está paralisado. Estão se tomando medidas para aumentar a eficiência do setor público.
Folha - Onde vão ser feitos os próximos cortes?
Montoro Filho - O primeiro grande corte é esse dos contratados do Baneser. Segundo, o governador vai instruir os presidentes das estatais para fazer algo similar nas empresas.
Folha - Existe uma previsão de quantos funcionários serão cortados?
Montoro Filho - Não. E não há meta. O Covas não é o (ex-presidente Fernando) Collor. O Collor chegou e disse: todo mundo demita 30%. O Covas determinou: vamos enxugar a máquina. Ele determinou a realização de um censo do funcionalismo, para dar um rumo nessa coisa. A idéia é ser seletivo.
Folha - O Estado deve R$ 3 bilhões para as empreiteiras. Como vai ser feita a negociação dessa dívida? Ela já começou?
Montoro Filho - Não. No momento, nem se pensa nisso. Você está parcelando o salário do funcionário... Eu não quero nem pensar nesse negócio.
Folha - Mas existe uma pressão sas empreiteiras.
Montoro Filho - Não.
Folha - Mas elas estão procurando o governo.
Montoro Filho - Se procurarem, não vão ser recebidas. Neste instante, eu não posso nem pensar nisso.
Folha - No curto prazo, então, as empreiteiras não vão receber.
Montoro Filho - O dinheiro para pagar as empreiteiras está aqui: investimentos e outras despesas de capital. Primeiro trimetre: zero.
Folha - Já existe algum estudo do que pode ser privatizado?
Montoro Filho - O governador determinou a todos os órgãos que fizessem um levantamento do patrimônio imobiliário do Estado de São Paulo. Com isso, você pode abater aluguéis –transferindo órgãos de prédios alugados para prédios próprios– e abater juros, através da desmobilização. Você vende imóveis para pagar as dívidas.
Folha - E com relação às empresas?
Montoro Filho - Na venda de ativos, a prioridade que ele deu, e que já está caminhando, é a questão da venda do patrimônio imobiliário.
Folha - E com relação às estatais?
Montoro Filho - Não tem nada dentro, nem nada fora. Não existe modelo de privatização definido. Algo que pode ser estudado é a venda de ações. A preocupação do Covas é no sentido de que as empresas, como estão, teriam um valor depreciado, em função da situação financeira. Ele vai exigir do governo federal que não seja pressionado para vender, para vender mal. Essa é a questão.

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