São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995
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Intervenção faz da solução um problema

JOSÉ ROBERTO CAMPOS
DA REDAÇÃO

As intervenções no Banespa e no Banerj mostram uma ruptura radical com a tradição política recente. Foco da pilhagem do dinheiro público a serviço de interesses privados, estes bancos serviram como máquinas de imprimir, virtualmente, qualquer dinheiro para qualquer gasto.
Coube ao destino eleitoral levar as duas maiores instituições financeiras estaduais do país (e os dois mais problemáticos) às mãos dos tucanos, que ganharam o poder federal. O que poderia ser uma solução não é mais que um problema. Não há posição convergente sobre a questão no país, assim como não há no PSDB.
Na heterogeneidade pessedebista (vício de formação) convivem uma dúbia herança modernista (beirando a agenda de Collor) e um passadismo renitente (restos da agenda de Vargas). Covas não quer a privatização do Banespa, Alencar pode até querer vender o Banerj e o Banco Central almeja certamente passá-los para mãos privadas.
Covas foi contra as negociações que poderiam desembocar em uma estrutura mais eficiente dos portos brasileiros –falava por convicção pessoal e eleitoral (Santos é uma de suas bases de votos). Deseja um desenlace cômodo para o complexo enigma que se resume na pergunta: até aonde deve ir o Estado, em que ponto começa a iniciativa privada?
O que o governador de São Paulo quer é que o governo federal faça o "serviço sujo" do saneamento, e lhe entregue um banco novo em folha.
O BC, cujo presidente indicado, Pérsio Arida, não vê qualquer função ou utilidade nos bancos estaduais, dá a Covas uma opção inescapável: ou ele privatiza estatais e paga o rombo ou vende o Banespa.
A ação do interventor do Banespa, Altino da Cunha, apenas no início, rolará águas para os moinhos da privatização. Enquanto o Estado brasileiro cai aos pedaços, um banco estadual deve fortunas, não presta contas a ninguém e mantém mais de 1.300 funcionários apenas para a assessorar sua presidência.
A disputa privatização versus manutenção do aparato estatal não se resolverá de uma só vez. O fato de ser colocada da forma como foi empurra, de qualquer forma, a continuidade da existência dos bancos oficiais para o terreno da moralização administrativa. E se no embate o Baneser (uma estrutura legal para um escandaloso clientelismo) for extinto, a disputa ganha em qualidade.

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