São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995
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FHC vai negociar cargos com Congresso

Nomes indicados pelos políticos vão ser investigados

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Preocupado com os sinais de rebeldia emitidos pelos partidos que o apóiam, Fernando Henrique Cardoso se prepara para negociar o preenchimento político de cargos na máquina pública.
A primeira semana de governo, marcada por desencontros com o Congresso, fez com que o presidente abandonasse a promessa de não negociar cargos. O que se diz à sua volta agora é que a negociação será sob novas regras.
A primeira delas: não será aceita nenhuma indicação para diretorias financeiras de estatais. Esses cargos serão preenchidos por técnicos que tenham o aval da equipe econômica.
O princípio é inspirado na suspeita de que o político que indica alguém para comandar o cofre de uma estatal só pode estar interessado em roubar.
Com base no mesmo fundamento, estão excluídas também da negociação as diretorias do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. O governo deseja sanear as duas instituições. E acha que a presença de políticos pode comprometer o objetivo.
A decisão frustra os parlamentares do PP e do PTB. Julgando-se preteridos na composição do ministério, os integrantes desses partidos reclamam cargos de peso. Estavam de olho nos bancos oficiais.
Outra decisão: todos os nomes indicados pelos partidos serão submetidos a uma investigação em que se buscarão inclusive eventuais antecedentes criminais.
A análise da qualificação do candidato será centralizada no Gabinete Civil da Presidência, chefiado por Clóvis Carvalho. A indicação de um candidato de ficha suja desqualifica também o padrinho.
Fernando Henrique decidirá nos próximos dias como será o seu relacionamento com o Congresso. Está convencido de que as reuniões do seu Conselho Político, integrado pelos presidentes de partidos, será insuficiente para assegurar-lhe uma convivência pacífica com a Câmara e o Senado.
Alguns, como o deputado Luiz Henrique (SC), presidente do PMDB, não representam a bancada. Outro exemplo é Álvaro Dias, do PP.
Exceto pela bancada do PP paranaense, nenhuma outra se sente representada por Dias, que só não participou da primeira reunião do Conselho porque estava no Caribe.
Por isso, Fernando Henrique planeja ter reuniões com os líderes das legendas que o apóiam. Não deseja fixar a periodicidade de tais encontros. Quer ter a liberdade de chamar os líderes quando julgar necessário.
O presidente pensa ainda em promover almoços e jantares períodicos com deputados e senadores dos diversos partidos. Quer encontrar-se com grupos pequenos -de cinco a dez parlamentares. No máximo 15. A idéia é que os encontros tenham caráter informal.
Com essas providências, Fernando Henrique espera contentar a todos os egos do Congresso, uma casa sem hierarquias em que cada parlamentar exige atenção personalizada.
Aconselhado pelo ministro José Serra (Planejamento), Fernando Henrique passou a considerar a hipótese de adiar a reunião que teria com 398 parlamentares da base governista nos próximos dias 26 e 27. Nesse encontro se discutiriam os principais projetos do novo governo, buscando sugestões dos aliados.
Lançada pelo presidente do PSDB, Pimenta da Veiga, na última reunião do Conselho Político, segunda-feira passada, a idéia sofre intenso bombardeio.
Na própria reunião Jorge Bornhausen, que preside o PFL, foi contra. Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), presente apesar de não presidir nenhuma legenda, também se disse contrário. Pimenta recebeu a solidariedade do peemedebista Luiz Henrique.
O vice-presidente Marco Maciel, que também integra o conselho, na hora peferiu o silêncio. Mas depois, aliou-se à tese do adiamento. "A data de 26 não está fixada em nenhuma lei. Pode ser mudada", diz o pefelista Maciel aos aliados.
A tese do adiamento é, na verdade, um pretexto. O que seus defensores desejam é modificar o formato da reunião. Sugere-se como alternativa que Fernando Henrique exponha as idéias do governo a grupos menores, divididos por partidos. As sugestões de cada legenda seriam remetidas posteriormente ao Palácio do Planalto.

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