São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995
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Dream team

RICARDO SEMLER

Fico pensando no ócio mental que pode atacar colunistas daqui para a frente. Teremos de nos contentar com firulas e fofocas de segunda? Tempos bons serão sinônimo de monotonia? E nós, colunistas, que somos do PSDB, então... Teremos que achar o PFL batuta, as medidas exemplares e o progresso inexorável?
Começa com o Sergião Motta, que ousou dizer algumas verdades. Claro, tem ele toda a razão, mas também o FHC de insistir que as saias não fiquem justas com o ACM e o jornalista Marinho.
Afinal, o Brasil ainda é dos coronéis; portanto, voto no Congresso e entonação favorável do Cid Moreira são essenciais em terras africanas. Não digo isto em tom de ironia, não. Há que se agradar os que usurparam o verdadeiro poder.
Alguém poderia lembrar que estes foram os melhores amigos do Fernandinho, mas o abominável homem das neves de Aspen sofria de megalomania, e isto nem a TV conserta.
Um presidente eficaz não tem nem mesmo como contrariar os grandes empreiteiros, ainda. FHC entendeu isso, e daí advém seu poder de estrategista e conciliador. É o que o país precisa agora, por mais que dê uma baita duma azia.
O que esperar, portanto? Uma transição rumo à modernidade. Não a modernidade em si, e não porque FHC e sua turma não entendam o que seja isso. Apenas porque é uma rota lenta e repleta de desvios.
Indicadores de modernidade são fáceis de enxergar. Exemplos? A Globo tendo que vender seu jornal no Rio para manter a TV.
Concessões de rádio e TV sendo feitas, através de envelopes lacrados, por um grupo de representantes do governo e do público. Intervenção em bancos estaduais que sofreram de interesses desviativos (já começou).
Municípios sofrendo intervenção por estarem sendo quebrados por governantes irresponsáveis (São Paulo seria o primeiro).
Ex-governadores sendo declarados inelegíveis por propositadamente falirem Estados.
Bancos sendo obrigados a remunerar correntistas pelo IGP-M. Milionários deixando de se declarar isentos ao fisco.
É fácil reconhecer um país que sonha em ser moderno. Este sonho o presidente e muitos dos governadores acalentam. E o quadro de ministros e secretários demonstra isto.
Nunca o país viveu constelação mais ofuscante de homens sérios, honrados e competentes. Claro, as coligações necessárias e os governadores bandidos fornecem muitos picaretas também, mas estes são, por uma das primeiras vezes em nossa história, minoritários.
E tome Serra, Malan, Bresser, Jatene, Dorothéa, Paulo Renato, Weffort, Lampreia e vários outros grandes nomes. Ou, no Estado, Angarita, Feldmann, Kapaz, Hugo Marques, Alckmin, Barelli, Montoro Filho, Robson, Nakano e companhia, de fato, bela. Que formidável seleção.
Fora Lerner, Azeredo, Britto e Tasso. Enfim, pela primeira vez peco por ter esquecido grandes brasileiros numa precária listagem. Está em campo o time dos sonhos, e o coração palpita ao pensar nas possibilidades. As décadas ainda serão necessárias, mas parecem mais próximas.
A bordo dos sonhos, faço os votos da galera de que este time mostre tudo o que sabe. Com tantos Bebetos, não há necessidade de Romários ou Edmundos. Bola rolando no campo, ignorem os bandeirinhas corruptos, o que vale é rechonchuda na rede!

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