São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995
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Descer para o litoral de SP é teste de paciência

PATRICIA DECIA

PATRICIA DECIA; ANTONIO ROCHA FILHO
ENVIADA ESPECIAL AO LITORAL SUL

ANTONIO ROCHA FILHO
A bagagem do turista que vai passar alguns dias no litoral de São Paulo tem que reservar um bom espaço para a paciência. Com o real, o caos comum no verão piorou. A Folha percorreu as praias de Peruíbe a Ubatuba e constatou problemas que vão da falta de combustível nos postos à falta de água nas torneiras.
Os problemas começam na estrada. O réveillon, com tráfego lento por mais de 24 horas no sistema Anchieta-Imigrantes, foi uma prévia dos congestionamentos.
A Secretaria dos Transportes e os prefeitos do litoral estão fazendo reuniões para encontrar uma solução para as operações Subida e Descida.
Água
Quem quer "conforto" precisa transformar o carro num caminhão-pipa. A falta de água em feriados prolongados e na temporada de verão no litoral norte não tem solução em curto prazo, segundo a Sabesp.
"Com o grande número de pessoas, a pressão diminui bastante e fica difícil levar a água até os bairros mais distantes das centrais", diz João Paulo Tavares Papa, 36, superintendente regional da Sabesp.
No litoral sul, a falta de água também é o principal problema para quem está em Mongaguá. O alto consumo impede que o abastecimento atinja as 300 mil pessoas que lotam a cidade.
A família Chemim completou na sexta-feira 12 dias tomando banho de caneca em Mongaguá. "Não sabia que a cidade era assim", disse Neide Chemim, 54, que mora em São Paulo.
Telefone e comida
Telefonar para fora da região é praticamente impossível. Com a sobrecarga de ligações, a chamada não se completa na maioria das vezes.
Na quinta-feira, às 17h, Sebastião Cardoso do Vale, 47, esperava havia 20 minutos em Maresias para completar uma ligação com São Paulo. Das 20h30 às 22h do mesmo dia, a reportagem tentou também falar de São Sebastião com São Paulo. Não havia linha no hotel. Com celular, o problema é o mesmo.
Comer é caro e demorado. A água de coco é vendida a R$ 2,50 em Maresias. Em São Paulo, o mesmo coco pode ser encontrado por R$ 1,00.
O comerciante Luiz Aparecido de Oliveira, 56, se recusou a comprar um robalo na Prainha, em Itanhaém. "É um roubo. Queriam me cobrar R$ 12 o quilo. Pago no máximo R$ 8 em São Paulo."
A estudante Mariela Diament, 13, ficou 50 minutos no McDonald's do shopping La Plage, no Guarujá, e não conseguiu comer. "Desisti, estava um inferno."
Um simples café exige espera na fila. "O movimento aumentou 50%", diz Augusto Duarte, 57, dono da padaria Big Pão, em Boiçucanga. "É preciso organizar fila para atender todo mundo."
Noite
A rodovia Rio-Santos fica parecida com a rua Augusta (SP) à noite, principalmente em Maresias. Frequentadores dos bares Shaolin e do Meio invadem a estrada.
"E se alguém reclama dos motoristas que param o carro no meio da rua pode até ser agredido", conta Regina Helena de Paiva Ramos, 63, secretária do Meio Ambiente de São Sebastião. A cidade recebeu 400 mil pessoas no réveillon. Normalmente, são 40 mil.

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