São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995 |
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Shenzhen é vitrine da revolução capitalista
JAIME SPITZCOVSKY
Abriga hoje arranha-céus, uma selva de guindastes, construções em ritmo acelerado e 2,5 milhões de habitantes, atraídos pelo status de "zona econômica especial" dado à metrópole. Mas a paisagem de um capitalismo trepidante, marcada por painéis de publicidade e anúncios em néon, contrasta com a imagem das diferenças. No centro de Shenzhen, próximo à estação de trem, crianças imploram esmolas, enquanto prostitutas lançam olhares a potenciais clientes, sobretudo estrangeiros. Em 1978, o dirigente comunista Deng Xiaoping resolveu levar a China para a "via capitalista" de desenvolvimento e pinçou alguns pontos do mapa como laboratórios das novas experiências. Shenzhen entrou na lista das primeiras quatro "zonas econômicas especiais" criadas em 1979-1980. O plano era atrair investimento estrangeiro ao se oferecer em troca incentivos fiscais, facilidades para se conseguir terra e construir indústrias. Nas zonas econômicas especiais, a China proporciona ainda auxílio na contratação de trabalhadores e simplifica as leis para se formar uma empresa mista. O mago Deng escolheu Shenzhen por sua proximidade a Hong Kong, uma ilha de capitalismo britânico que sobreviveu ao cerco comunista. O ex-vilarejo em torno da estação de trem se transformou num ímã para os investimentos originários do outro lado da fronteira. Shenzhen passou a se espelhar no "primo rico" Hong Kong e foi derrubando o antigo regime. Inaugurou o primeiro McDonald's no país e também testemunhou as primeiras corridas de cavalo na China desde a Revolução de 1949, ocorridas no sofisticado Honey Lake Country Club. Empresas com Hitachi e Siemens aterrissaram em Shenzhen. Hotéis de cinco estrelas, como o Shangri-La, abriram suas portas para receber os empresários que se vestem na loja Kwun Kee, compram relógios de ouro na joalheria Shen Hua e circulam em BMWs e Toyotas importados. Shenzhen também se prepara para 1997, quando Hong Kong deixa a coroa britânica e volta para o controle de Pequim, sem abrir mão do seu desenvolvido capitalismo. Mas o impacto da reunificação divide analistas: alguns acham que o vírus capitalista já contaminou Shenzhen e, portanto, nada de significativo vai mudar. No entanto, há quem espere das mudanças mais uma mola para impulsionar o "boom" econômico. Em seu início, a expansão capitalista detonou uma corrida do ouro. "Cheguei aqui em 1988, com 27 anos, em busca de oportunidades", explica o engenheiro Song Ping. Proveniente de Wuhan (sudeste), ele se embrenhou na atividade de corretor de imóveis em Shenzhen. "Quero ganhar dinheiro e voltar para o local onde nasci", diz ele. Texto Anterior: Política comandou crise do peso mexicano Próximo Texto: Jovens chineses copiam EUA Índice |
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