São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995
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Jovens chineses copiam EUA

JAIME SPITZCOVSKY
DO ENVIADO ESPECIAL

Boné de beisebol enterrado na cabeça, camisa de flanela xadrez e jeans enfiados para dentro das botas de couro preto.
Com esse guarda-roupa norte-americano, o chinês Zhu Dong Yu, 24, desfila uma das faces do novo cosmopolitismo da cidade de Xangai: "o estilo ianque".
"A minha geração está em sintonia com o que acontece no Ocidente", conta ele enquanto saboreia uma cerveja no Judy's Place, bar da moda em Xangai.
"Todos os meus amigos agora comemoram o Natal, porque sabemos que é um costume ocidental", explica Zhu, que tem o norte-americano Joseph Heller como seu escritor favorito.
Quando fala sobre literatura, Zhu não faz nenhuma menção sobre as tradicionais obras de autores chineses.
Ele saca do bolso o seu cartão de visitas. Zhu trabalha no departamento de marketing da Gillette na cidade de Xangai.
No trabalho, o jovem chinês se vale de um nome de guerra. Ele se se chama Joe Chu. "Assim fica mais fácil para os estrangeiros me identificarem", diz.
Perguntado sobre choque de gerações nas famílias chinesas, Zhu explica, no inglês impecável que aprendeu no curso de literatura norte-americana da Universidade de Xangai: "Meus pais aprovam as mudanças, mas ainda não conseguem entender nossos padrões de consumo, acham uma loucura pagar 400 yuan (US$ 47,4) por uma blusa".
Numa cidade onde o salário médio flutua em 800 yuan, Zhu conquista um poder aquisitivo mais elevado ao faturar um salário de 2,5 mil yuan com um emprego numa multinacional.
"Essa é uma tendência na minha geração. Ninguém mais se satisfaz com um trabalho qualquer no governo", afirma.
Outra característica comum à geração de Zhu: horror à política. "Estamos preocupados em conseguir um bom emprego e garantir nosso futuro", diz.
Em sua casa, os vestígios ideológicos ficam apenas com a sua mãe. Lá, ela é a única filiada ao Partido Comunista.
(JS)

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