São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995
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Entre a sorte e o público

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – O governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), vai amanhã a Brasília. Tomara que seja consultado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso a respeito de sancionar ou vetar a anistia para o senador Humberto Lucena (PMDB-PB), cujo mandato foi cassado por uso indevido da gráfica do Senado na campanha eleitoral.
Tasso recomendaria o veto, se o projeto passar pela Câmara. Já FHC, por todas as informações disponíveis até sexta-feira, dispõe-se a sancioná-lo, a partir do temor de criar um confronto com o Congresso, do qual depende para a aprovação das reformas constitucionais.
É claro que o presidente pode apostar na sua sorte e torcer para que a Câmara não vote o projeto de anistia. É uma boa aposta: não é fácil conseguir o quórum (252 deputados) para votar o requerimento de "urgência urgentíssima" para que a proposta de anistia possa prosperar.
No PMDB, maior partido da Câmara, o ânimo é contrário, em especial na ala paulista do partido que se pretende ética, para dissociar-se dos chamados fisiológicos.
Se apostar na sorte, FHC já comete um pecado. O funcionário público número um da República não pode omitir-se em assunto que, embora afeto a outro Poder, diz respeito exatamente ao comportamento de funcionários públicos supostamente de alto nível.
Mas, se a sorte falhar, que FHC ouça Tasso. Para o governador cearense, uma coisa é o ambiente no Congresso em fim de mandato, especialmente entre os que não se reelegeram ou não se candidataram. Para estes, diz Tasso, é "o vale-tudo, é o desprezo à opinião pública".
No novo Congresso, acredita Tasso, o ambiente será diferente. O confronto, portanto, seria com o velho e não com o novo Congresso, que será, afinal, o que votará as reformas. Pode ser que Tasso esteja equivocado sobre o ânimo dos novos congressistas. Mas o público não perdoará FHC se for cúmplice de uma barbaridade como essa tal anistia.

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