São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Bendita da Silva
COSETTE ALVES Benedita da Silva"Minha prioridade como senadora é o desenvolvimento econômico com justiça social, direitos humanos e cidadania. Não dá para você conviver com o país do jeito que está. Principalmente no Rio de Janeiro" –Você foi a favor da intervenção do Exército no Rio? –Não. –O que propõe? –Uma ação integrada da Polícia Civil, da Polícia Militar e da Polícia Federal. Primeiro um expurgo dessas polícias viciadas. Dar instrumentos à polícia para combater, treinamento adequado. Discutir com a polícia o que é cidadania, para ela não pegar o Pitanga, como já pegou duas vezes. O Exército fez o Pitanga abrir o carro no mesmo lugar –num sábado. O Pitanga falou: "De novo, gente?". O que me preocupa é que o Exército está dando batida nos morros com os soldados, alguns jovens e inexperientes, revistando crianças. Agora, onde moram esses soldados? Porque 90% dos soldados do Exército são pobres. Isso tem que ter uma estratégia, não pode a imprensa dizer "O Exército vai subir o morro". Você acha que vai achar bandido? Os bandidos já foram, não tem bandido. O efeito é psicológico, pode crer, porque os bandidos já saíram. Os favelados não andam de avião. Não fabricam armas. Não plantam maconha e nem têm cocaína. Não adianta pegar simplesmente os caras que são simplesmente os trombadinhas do tóxico e deixarem o principal. O que passa de avião nas nossas fronteiras... É lá que o nosso Exército tem que ir: nas fronteiras. O que a gente precisa é combater o cartel que está no Brasil. –Você leu os livros do jornalista Gilberto Dimenstein, "Meninas da Noite" e a "Guerra dos Meninos"? Você acha que a mídia está dando atenção adequada ao problema? –Li todos os livros dele. Sempre falamos com o Gilberto Dimenstein e ele é nosso depoente de plantão. Todas as CPIs que nós temos aqui, de prostituição infanto-juvenil, de extermínio de crianças e adolescentes, nós o chamamos. Sem a comunicação, é impossível. Ele produz exatamente em cima disso, ele sabe que se não houver parceria, divulgação disso, o assunto morre porque ninguém quer ver. POLÍTICA –Quais serão suas prioridades no Senado? –Minha prioridade é o desenvolvimento econômico com justiça social, direitos humanos e cidadania. Não dá para você conviver com o país do jeito que está. Principalmente no Rio de Janeiro. Estou trabalhando a questão do desenvolvimento econômico do Rio de Janeiro. Vou insistir com o Fernando Henrique na questão da construção naval, do pólo petroquímico, dos portos, turismo e da malha ferroviária. Temos que terminar as ferrovias que estão por aí. –Socialismo ou capitalismo? –O capitalismo não provou até agora a sua eficiência no combate à fome, à miséria, ao desemprego, à falta de habitação e de saúde. Eu sou socialista. Não aceito e nem concordo com os que dizem que o socialismo morreu. Estão pensando no socialismo totalitário. –É a favor da abertura de mercado? –A abertura deve ser feita com negociações adequadas. –É a favor do capital estrangeiro? –Não faço restrições. Mas o mercado interno tem que ter condições de competir. O Brasil não pode virar o Paraguai. –E o empresariado brasileiro? –O empresariado brasileiro precisa entender na relação de capital e trabalho a dimensão do investimento social. Se ficar achando que a cada tostão que coloca no bolso do trabalhador diminui a sua riqueza, ele está contribuindo para uma produção externa. Se aumentar o poder aquisitivo desse trabalhador ele vai poder comprar o que produz, e riqueza do empresariado e do país vão aumentar. –E as elites? –A elite brasileira que tem se perpetuado no poder é uma elite inconsciente com a miséria de tantos. Ela é responsável pelo caos existente nesse país hoje. Não se pode isentar e começar a achar culpados em pequenos grupos. –E a classe média? –A classe média é o recheio de um grande sanduíche. Temos a elite, a base da pirâmide social e ela está no meio, precisa se definir e ao seu projeto de vida. O favelado quer urbanização de favela e o emprego. Depois pode querer outra coisa, agora quer isso. A classe média não se dá conta de seu empobrecimento. A classe média baixa está subindo o morro. MENSAGENS –O que você gostaria de dizer ao Lula? –Quero dizer ao Lula, uma pessoa que eu amo extremamente, uma mensagem que foi passada a mim e que eu acho que cabe a ele. Lula, nunca serás vencido se não empreenderes luta da qual de ti não dependa vencer. –E ao povo brasileiro? –Eu me lembrei de um trecho do hino, Brasil, teu povo é forte, como é grande a tua terra. Sê firme, forte e constante, preservando a fé e a esperança, que cedo virá a liberdade. –E ao novo presidente? –Eu quero ver o projeto social-democrata que vão executar. O projeto do PSDB. Eu espero que o Fernando Henrique Cardoso dê certo. Estou disposta, junto com o meu partido, a uma oposição propositiva de interesse da nação e dos trabalhadores. Vai ficar fácil para o Fernando Henrique cumprir o que prometeu aos que já têm alguma coisa. O difícil será cumprir para a camada sofrida e que precisa que o governo dê certo. Texto Anterior: Bendita da Silva Próximo Texto: Histórias de infância Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |