São Paulo, quarta-feira, 11 de janeiro de 1995
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Romário é o craque perfeito para torcedor

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Há muito tempo, ouvi de um cartola a frase recheada e coberta de sensatez: no futebol, é preciso ter os pés no chão, encarar a realidade de frente, sem loucuras. Calei-me, diante de tamanha sabedoria. Mas segui cultivando o oposto: futebol, na realidade, é uma fábrica de sonhos. O que é que se vende todas as tardes de domingo, senão duas horas de ilusão, que, muitas vezes, valem por uma vida?
O torcedor tanto pode vestir o perna-de-pau com o uniforme impecável do craque, quanto transformar o craque num autêntico perna-de-pau, em segundos.
O torcedor, na verdade, é um ilusionista, que transforma a realidade ao sabor de sua paixão. E que sonha anos a fio com seu supertime, repleto de craques, digamos, como um Romário. Sim, porque Romário é o craque perfeito para o torcedor. Perfeito porque imperfeito, capaz de levá-lo ao deslumbre total, com seus gols mágicos, ou ao desespero, com suas molecagens, dentro e fora das quatro linhas.
Romário é mais do que um simples goleador, desses que sai pelo mundo quebrando recordes e distribuindo dores de cabeça aos cartolas e torcedores dos times que defende. Se examinado sob a lupa da lógica, o que tem Romário, para merecer celebrações? A começar pelo tamanho, poderia ser tudo, menos centroavante. Com um pique de não mais que 20 metros, o meio-campo lhe estaria interditado. Por fim, com esse gênio, a própria vida haveria de lhe ser difícil.
Mas Romário tem carisma, um não sei o quê, capaz de dar-lhe uma dimensão cada vez maior, tanto dentro como fora do campo. Lá no campo, desenvolveu tal técnica específica de se colocar na área, dominar a bola e colocá-la nas redes, que nem Coutinho, o gordo parceiro de Pelé, nem Toninho Guerreiro, mestres nessas artes, chegam-lhe aos pés.
Agora, rico e festejado como um dos raros exemplos de tamanha individualidade, capaz de levantar uma Copa do Mundo sozinho (nessa galeria, apenas o Garrincha de 62 e o Maradona de 86), resolve voltar para o Rio.
Volta para reerguer o Flamengo, um símbolo carioca, ressuscitar o futebol por lá e vender uma imagem otimista do Rio.
Não é pouco. Mas é Romário.

A dança das contratações por aqui segue em ritmo de valsa. Não as vertiginosas de Strauss, mas quase uma serenata.
O Corinthians, que comemorava as vindas de Mário Sérgio, no banco, e Vítor na lateral, chora a iminente despedida de Marcelinho, seu principal jogador.
O Palmeiras, para minha surpresa, mal consegue fechar negócio com Índio, um bom lateral-direito, embora fosse presto na venda dos passes de três afamados craques: César Sampaio, Zinho e Evair.
Por fim, o tricolor, que está perdendo também o outro Válber, o mais completo curinga destes tempos, pelo menos promete apresentar Bentinho à torcida.

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