São Paulo, quarta-feira, 11 de janeiro de 1995
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Cultura exibe segunda parceria com cinema

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Rede Cultura coloca no ar terça-feira à noite "Sombras de Julho", filme que financiou em parceria com o Banco Nacional e a produtora M.Altberg, do Rio.
Mais que um novo programa, o longa-metragem é a prova de que a união entre o cinema brasileiro e a TV tem tudo para funcionar.
Por ironia, é também o germe de divergências que podem azedar o casamento.
"Sombras de Julho" trata de uma sangrenta disputa de terras em Minas Gerais (leia texto abaixo). Baseia-se no romance homônimo do mineiro Carlos Herculano Lopes, que ganhou a 5ª Bienal Nestlé de Literatura há cinco anos.
O cineasta carioca Marco Altberg ("Fonte da Saudade") assina a direção.
Para concretizar a parceria que gerou o filme, a Cultura tomou como parâmetro uma experiência anterior, pioneira no Brasil.
Em 94, a emissora bancou parte de "Veja Esta Canção", longa-metragem do diretor Cacá Diegues. A produção custou algo que hoje beira os R$ 255 mil. A Cultura pagou metade e o Banco Nacional arcou com o restante.
O acordo dava à emissora o direito de exibir o filme em primeira mão. Só depois de passar na televisão é que o longa chegaria às salas de cinema.
Assim se fez. Como "Veja Esta Canção" dividia-se em quatro episódios de 30 minutos, a Cultura os mostrou separadamente nos dias 7, 14, 21 e 28 de maio. Em junho, transmitiu o filme de uma só vez.
Todas as exibições registraram audiência média de 4,5 pontos (179.055 domicílios) na Grande São Paulo. A emissora considerou o índice satisfatório.
No fim do ano passado, a distribuidora Rio Filmes colocou o longa em um cinema paulistano e quatro cariocas. Comparando-se com outras produções nacionais, "Veja Esta Canção" teve boa receptividade.
No Rio, por exemplo, o longa está em cartaz há sete semanas –a média dos filmes brasileiros é três. Também abocanhou prêmios internacionais, como o do júri no festival de Biarritz (França) e o de melhor direção em Havana.
"Para a Cultura, valeu a pena ajudar a financiá-lo", atesta Regina Bueno, diretora de planejamento mercadológico da rede. "Gastamos menos do que em outros programas e tivemos excelente retorno de marketing. Sem falar que, até o final de janeiro, estaremos comercializando o filme sob a forma de homevideo."
O sucesso da empreitada animou a emissora a investir em "Sombras de Julho". Embora mais caro que "Veja Esta Canção", o longa custou menos para a Cultura.
A rede pôs R$ 84 mil no filme –o equivalente a dois episódios e meio do programa infantil "Castelo Rá-Tim-Bum". A M.Altberg e o Banco Nacional entraram, cada um, com R$ 150 mil.
O custo total do produto –R$ 384 mil– é muito inferior ao de outros longas brasileiros, que saem em média por R$ 700 mil.
Como fez com "Veja Esta Canção", a Cultura exibirá "Sombras de Julho" em quatro partes entre as próximas terça e sexta-feiras. Também pretende mostrá-lo de uma vez só, mas ainda não programou o dia. Dentro de dois meses, deve lançá-lo em vídeo.
Quanto à carreira do longa nos cinemas, pairam dúvidas. Eis o germe que pode levar ao fim uma parceria que mal começou.
A Rio Filmes acha que a união com a TV daria melhores frutos se a Cultura desistisse de exibir os longas em primeira mão. "O caminho correto é o inverso: para alcançar bilheterias maiores, as produções têm que passar primeiro no cinema e só depois na televisão", afirma Paulo Sérgio Almeida, presidente da distribuidora.
Ele diz que está encontrando dificuldades para negociar "Sombras de Julho" com as salas exibidoras justamente por causa da "primazia" que o filme terá na TV. "Há um impasse aí. Se não soubermos resolvê-lo, corremos o risco de abortar um casamento muito promissor."

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