São Paulo, quarta-feira, 11 de janeiro de 1995
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Telefilme destaca papel da mãe mineira

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Sombras de Julho" é um telefilme em capítulos que expõe ao mesmo tempo a proximidade e a distância entre o formato e as novelas e séries de televisão.
A aproximá-lo, estão ali um certo esquematismo e o pendor ao melodrama (contido, neste caso). A distanciá-lo, planos longos, quase contemplativos, e uma profundidade de campo que só agora parece estar sendo descoberta pelos noveleiros.
O enredo de "Sombras de Julho" transita entre o épico e o drama, o social e o psicológico.
Com escassos personagens, narrativa sóbria (com uns poucos "flashbacks" e umas previsíveis câmeras-lentas) e cenografia despojada, conta uma história de tons quase bíblicos: Jaime (Ângelo Antônio), o jovem filho de um fazendeiro truculento (Othon Bastos), é forçado pelo pai a matar seu melhor amigo, Fábio (Rubens Caribé), primogênito de um fazendeiro rival (Roberto Frota).
Daí para diante, o filme é a história dos tormentos de consciência de Jaime e da desagregação das duas famílias, paralelamente à viciada investigação policial em torno do crime.
Até a aparição de um jipe, lá pelo meio do filme, a única referência que mostra que estamos no século 20 é um breve diálogo sobre futebol. Até então, a história tem aquela qualidade atemporal característica das fábulas rurais.
Há pelo menos duas virtudes a destacar em "Sombras de Julho". Uma está na história original, contida no livro de Carlos Herculano Lopes: a concentração de todo o drama na relação mãe-filho. A julgar por "Sombras de Julho", a mais sólida tradição mineira (pois é no interior de Minas que se passa a ação) não é propriamente a família, mas o complexo de Édipo.
Outra virtude evidente do telefilme é a qualidade e a afinação do elenco. Tanto os veteranos como os novatos parecem ter encontrado o tom exato de interpretação, ao mesmo tempo intenso e econômico, o que deve ser creditado em parte à direção de atores.
Merece louvor a bela atuação de Ângelo Antônio como protagonista. É um jovem ator de talento que quase teve sua carreira arruindada ao ficar estigmatizado como o chato Beija-Flor da novela "O Dono do Mundo".
(JGC)

Filme: Sombras de Julho
Produção: Brasil, 1994
Direção: Marco Altberg
Elenco: Ângelo Antônio, Othon Bastos, Lu Mendonça
Quando: em quatro capítulos diários, a partir do dia 17, às 22h30, na Rede Cultura

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