São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 1995
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FHC não sabe como aliar promessas e pão-durismo

Presidente chegou a falar em mínimo de R$ 140

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso ainda não tem a fórmula para conciliar suas promessas de campanha, que não são baratas (ver quadro nesta página), com a disposição de austeridade absoluta, de um governo "pão-duro", como anuncia o ministro do Planejamento, José Serra.
Ainda candidato, FHC foi pródigo em números. Prometeu aumentar o salário mínimo de R$ 70 para R$ 140 e investir R$ 70 bilhões em obras de infra-estrutura (estradas, ferrovias, telecomunicações etc) até o fim de seu governo.
Os R$ 70 bilhões equivalem a pouco mais de um sexto do PIB brasileiro de 93 (R$ 440 bilhões) e representam dois terços do Orçamento federal previsto para 95 (R$ 103 bilhões).
Na área da saúde, FHC defendeu a aplicação de R$ 80 por habitante a cada ano. Multiplicado por 150 milhões de brasileiros, o investimento equivale a R$ 12 bilhões anuais. Ou R$ 48 bilhões em quatro anos de governo.
O programa do presidente estabelecia ainda a destinação de R$ 3 bilhões para a construção de casas populares só no primeiro ano de governo.
FHC prometeu irrigar 1,5 milhão de hectares de terra e assentar 280 mil famílias até o final de seu governo. Atualmente, 3 milhões de hectares de terra são irrigados no Brasil.
Há uma outra proposta que não estava no programa de governo, mas é defendida por assessores próximos de FHC: o pagamento de R$ 40 mensais a 7 milhões de famílias carentes.
Se implementada, a novidade consumirá outros R$ 3,3 bilhões anuais. Ou R$ 13,2 bilhões em quatro anos.
Paradoxalmente, as promessas de gastos foram acompanhadas de promessas de não-elevação de impostos. "Chegamos a um ponto em que não há mais condições de aumentar impostos", disse FHC.
Na véspera da eleição, o então candidato afirmou também que não prorrogaria a cobrança do IPMF. O imposto realmente acabou, mas a promessa de não aumentar impostos foi descumprida antes mesmo da posse.
No dia 31 de dezembro, o ex-presidente Itamar Franco editou uma medida provisória que eleva o Imposto de Renda das pessoas jurídicas. A decisão contou com apoio de FHC e de sua equipe econômica.
A divisão de poderes entre os ministros representa outra contradição frente às promessas de campanha do presidente.
Como candidato, FHC afirmou que os ministério mais importantes de seu governo seriam os da Agricultura, Educação e Saúde –e não o da Economia, carro chefe das gestões anteriores mais recentes.
Na primeira reunião com o ministério, FHC deixou claro que os três homens fortes de seu governo são os ministros do Planejamento (Serra), da Fazenda (Pedro Malan) e o chefe da Casa Civil (Clóvis Carvalho). Eles coordenarão o trabalho dos outros ministros, inclusive dos três "importantes" citados pelo candidato Fernando Henrique Cardoso.

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