São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 1995 |
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Maxim Vengerov restitui peças proibidas
LUÍS ANTÔNIO GIRON
Ele gravou em Londres, em maio de 1994, com a Orquestra Sinfônica de Londres, regida por Mstislav Rostropovich, os dois primeiros concertos para violino de Serguei Prokofiev (1891-1953) e Dmitri Shostakóvitch (1906- 1975). É o décimo CD de Vengerov em quatro anos de carreira. As obras tiveram execuções proibidas na União Soviética por Stalin, muito embora Prokofiev e Shostakóvitch fossem compositores aceitos pelo regime. Prokofiev compôs o "Concerto para Violino, Op. 19" em 1917, no período pré-revolucionário. Na época, embora simpatizante do socialismo, o compositor se enquadrava no movimento futurista. Acusado de escrever dissonâncias demais, viu-se forçado a se exilar da terra natal. Pôde voltar nos anos 40, aceitando as regras estéticas vigentes. Shostakóvitch compôs o "Concerto em Lá Menor, Op. 77" em 1947. Não conseguiu obter permissão para estrear a obra por conter referências à música judaica, que Stalin odiava. Representou uma homenagem do compositor a seu colega, o violinista David Oistrakh. Este veio a estrear a obra em Leningrado em 1955, depois da morte de Stalin. O que nessas duas peças desagradava tanto o ditador? Vengerov responde com seu Stradivarius datado de 1727: complexidade e ambiguidade. As obras contêm elementos perturbadores. O folclore russo comparece como paródia. As dissonâncias pululam de compasso a compasso, dançando harmoniosamente com os elementos mais tradicionais. O disco mostra um equilíbrio espantoso entre solista e orquestra. As duas peças são quase-sinfonias, em que o violino age como elemento transgressivo. A técnica de Vengerov permite que ele não cometa deslizes nem dê espaço para lirismos superficiais. Tudo é medido e inspirado. O disco é um mergulho profundo na arte pela arte que, apesar de tudo, foi praticada durante o comunismo. (LAG) Disco: Prokofiev e Shostakóvitch Intérpretes: Maxim Vengerov (violino) e Orquestra Sinfônica de Londres Maestro: Mstislav Rostropovich Lançamento: Warner/Teldec Quanto: R$ 20 (o CD, em média) Texto Anterior: Górecki faz música sacra com política Próximo Texto: Bomba! As 'Obras Incompletas' de Maluf! Índice |
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