São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Mulherzinhas' evita melodrama ao retratar o universo feminino

DANIELA ROCHA
DE NOVA YORK

"Mulherzinhas", de Gillian Armstrong, recém-lançado nos Estados Unidos, é um conto, um pequeno romance levado à tela com um cuidado raramente visto.
O filme, que vai estrear no Brasil em março, é terno do começo ao fim sem ser chato.
Trata de moral, direitos, respeito e outros sentimentos nobres em uma narrativa que não despenca para o melodrama. Traz pequenas heroínas que, surpreendentemente, são humanas.
Desde sua estréia nos EUA, tornou-se forte candidato aos Oscars de melhor filme e atriz (Winona Ryder e Susan Sarandon).
"Mulherzinhas", quarta versão cinematográfica do romance autobiográfico de Louise May Alcott, é a história da família Marche, da Nova Inglaterra, com o pai, quase sempre ausente, a mãe (Sarandon) e quatro filhas totalmente diferentes, mas muito unidas.
Uma delas, Jo (brilhantemente interpretada por Ryder), é a mais instigante. Em parte, a história da saga da família é narrada por ela.
O filme é de época –século 19–, mas atual, devido aos conflitos que traz em Jo, universais. Jo, que queria ser escritora, era chamada por seu pai de "wild girl" (garota selvagem).
Ela é a personagem central, que imprime vida ao filme: fora de seu tempo, irriquieta para os padrões da época, extrovertida e extremamente criativa.
Mais parecida com ela é a pequena Amy (Kirsten Dunst), enquanto as outras duas irmãs, Beth (Claire Danes) e Meg (Trini Alvarado), têm preocupações mais caseiras.
Na primeira metade do filme, o pai está longe, convocado para a guerra pelo Exército americano. A mãe é o centro da família e, com nobreza e tranquilidade, educa as filhas de forma quase filosófica, apenas indicando-lhes os limites para que suas condutas sempre sejam corretas.
Durante o período da adolescência, Jo costumava escrever pequenas peças, encenadas sempre em casa. O problema corrente era a falta de homens para os papéis masculinos, até que se tornaram amigas de um jovem vizinho.
A maturidade chega aos poucos e dá novo ritmo à história. Jo tem sua primeira crise quando percebe que não está fazendo nada para atingir sua meta de ser uma escritora. Recusa um convite de casamento, descobre que a irmã menor vai estudar pintura em Paris e resolve sair de casa.
Depois de sofrer com editores que não se interessam em publicar suas histórias, acaba escrevendo contos para jornais. Assim, conhece o professor alemão Bhaer, que vira uma espécie de tutor para ela.
As irmãs se separam, mas mantêm um vínculo afetivo. Meg casa-se e tem filhos, Beth adoece, Meg vira pintora e Jo se empenha em escrever o livro que queria ver publicado.
Sem cair na armadilha do feminismo desmedido e lidando com tato e precisão em cada detalhe e cada cena do filme, a diretora Armstrong conseguiu fazer de um romance de época uma pequena obra de arte com seu "Mulherzinhas".

Texto Anterior: Warner relança rico acervo da Continental
Próximo Texto: Reino Unido encontra resposta a Tarantino
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.