São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 1995
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Líder direitista faria cem anos

Plinio Salgado ritualizou a direita

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Há 100 anos nascia Plinio Salgado (1895-1975), o mais influente e controvertido ideólogo e ativista da direita brasileira.
Ele criou e chefiou nos anos 30 a AIB (Ação Integralista Brasileira), movimento hierarquizado nos moldes do fascismo italiano e que chegou a reunir 600 mil militantes.
O integralismo surgiu num período de radicalização política e de desprestígio do modelo liberal de democracia.
As idéias de Salgado pareceriam hoje estranhas por não disporem de nenhum parâmetro contemporâneo de comparação. Para ele, o espírito nacional estava no Brasil agrário do interior, em contraposição ao metropolitanismo aberto às influências estrangeiras nas cidades do litoral.
A democracia, a seu ver, fragmentava a sociedade por meio de partidos, que por sua vez quebravam a "harmonia" cultural e impediam que a nação se deixasse comandar por suas elites, que por sua vez emergeriam numa espécie de destilação natural.
Com a ritualização da militância -a AIB possuía milícias uniformizadas, camisa verde com a letra grega sigma na braceira e a saudação "anauê" como forma de reconhecimento- os integralistas se tornaram uma contrafação do nazi-fascismo europeu. O movimento chegou a receber fundos da embaixada italiana no Rio.
As relações de Salgado com Getúlio Vargas foram ambíguas. De início, os integralistas queriam tomar de assalto o poder, e o então presidente seria um obstáculo a ser removido.
Chegaram a tentar um golpe (11 de maio de 1938), mas, com o Estado Novo e a adoção de alguns princípios de organização do Estado –como o papel das corporações– eles conviveram com a sensação de proximidade do poder.
Plinio Salgado exilou-se em Portugal em 1938. Voltou ao Brasil em 1945. Criou o PRP (Partido de Representação Popular) e se tornou um personagem secundário na política do pós-Guerra.
Com 8% dos votos ao disputar a Presidência da República em 1955, não tinha mais o carisma e as milícias que amplificassem suas idéias. Seu apoio ao regime militar, a partir de 1964, foi apenas o de um idoso deputado federal paulista, habituado a combater o comunismo e o que se assemelhasse a ele.
Numa época em que a incipiência da mídia eletrônica exigia de um líder político agilidade oratória e bom texto, Salgado foi um doutrinador profícuo. Publicou cerca de 70 livros e ensaios.
Como escritor, lançou em 1926 um dos melhores e mais esquecidos romances do modernismo, "O Estrangeiro", com capítulos de concisão telegráfica e um laconismo de rara delicadeza na construção dos personagens.

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