São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Covas repete estratégia de Quércia e Fleury

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na busca de sustentação parlamentar para seu governo, Mário Covas (PSDB) aplica a mesma estratégia dos ex-governadores Orestes Quércia (1987-1991) e Luiz Antonio Fleury Filho, que montaram um "rolo compressor" na Assembléia Legislativa paulista.
Para tentar obter maioria, ainda que apertada na Casa, o PSDB costura alianças que garantam a tramitação dos projetos de Covas.
O "arco político tucano" está sendo formado através de contatos individualizados com os parlamentares, realizados por Róbson Marinho, chefe da Casa Civil.
Marinho nega que tenha agido com desprezo pelos partidos (veja entrevista nesta página), mas não é o que dizem alguns de seus interlocutores –deputados do PMDB e de siglas menores.
O objetivo tucano é fazer a presidência da Assembléia –que controla a pauta de votações– e reduzir o poder de fogo da oposição. O segundo ponto foi obtido.
Até o momento, o governo não tem maioria. Conta com o apoio de 44 deputados. A oposição ficaria com 50 –se não houver racha no PMDB, o fiel da balança.
Na verdade, o PSDB elegeu 17 deputados, e o PFL, cinco. Mas Marcos Mendonça (PSDB) e Duarte Nogueira (PFL) viraram secretários da Cultura e da Habitação, respectivamente. Serão substituídos por dois tucanos.
Além do PFL, o atual governo já conta com os apoios de PL, PTB, PDT, PV, PRP e PSB.
O mesmo deve ocorrer no PSD (dois deputados), que tem como líder Nabi Abi Chedid.
Na contramão, devem ficar PT, PMDB, PPR e PC do B. Nenhum desses partidos, porém, deve fazer uma oposição sistemática –exceto o PMDB quercista e fleuryzista, que reúne hoje 20 deputados.
"Agora somos oposição. Vamos tentar agir em bloco para nos fortalecer", avisa Milton Monti, líder da bancada peemedebista.
Cada projeto deverá ser motivo de duras negociações, ora pendendo para o governo, ora para a oposição. "Deve haver um movimento pendular", imagina o deputado petista Luiz Carlos da Silva.
O PT está disposto a mostrar, por exemplo, seu vigor em defesa do funcionalismo e contra as privatizações. "Antes, isso aqui era um quintal do Executivo. Agora, haverá muita conversa", admite Ricardo Trípoli (PSDB).
No governo Fleury, o bloco governista incluía, como o atual, o PTB e o PFL. Com uma diferença: eram 50 contra 34 da oposição.
O PTB se alinha mais uma vez com o governo. Em troca, espera cargos. "Reivindicamos, por ora, posições regionais. A maioria dos deputados quer ganhar espaço no interior. Há eleições municipais em 1996", diz Campos Machado, líder petebista.
Segundo Machado, Covas está "na fase técnica". "Mas, quando o desencanto bater à porta, a partir de junho (quando então o novo governo estaria desgastado), vamos pedir cargos maiores na administração", diz.
O PL, que apoiou Covas no segundo turno, também age pensando em cargos a médio prazo. "É natural que isso possa acontecer", afirma Gilberto Kassab, que deverá ser o líder do partido na Casa.
Os micropartidos aderem por sobrevivência. Deputados que são líderes regionais sonham em disputar prefeituras em 1996. Querem verbas para seus municípios.

Texto Anterior: "Tenentistas" se articulam
Próximo Texto: 'PMDB é confederação bósnia'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.