São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 1995
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Marinho admite ceder cargos a deputados

AMÉRICO MARTINS
CARLOS MAGNO DE NARDI

AMÉRICO MARTINS; CARLOS MAGNO DE NARDI
DA REPORTAGEM LOCAL

O chefe da Casa Civil do governo Mário Covas, Róbson Marinho, 44, afirma que parlamentares de todos os partidos poderão sugerir nomes para o preenchimento de cargos na administração do Estado de São Paulo.
Coordenador político do governo e responsável pelas articulações partidárias, ele sinaliza com a possibilidade de atender esses pedidos, mas não enxerga essa prática como fisiológica.
Marinho, ex-deputado federal e ex-prefeito de São José dos Campos, tem enfrentado uma rebelião dentro das bancadas federal e estadual do próprio PSDB.
Os deputados tucanos reclamam que não foram consultados para indicar nomes para os cargos no governo e cobram participação de pessoas de sua confiança na administração tucana.
O coordenador político do governo classifica essa pressão dos parlamentares de "natural".
Ele discorda da avaliação de que o apoio do PMDB, com uma bancada de 23 deputados na Assembléia Legislativa, seria imprescindível para formar um bloco de apoio ao governo do Estado.
Caso conseguisse esse apoio, Covas –que conta com 22 deputados do PSDB e do PFL– já garantiria uma base para aprovar qualquer projeto de sua autoria.
A discordância de Marinho, porém, é baseada em uma avaliação do staff do governo Covas.
Os tucanos não acreditam que, depois de duas semanas de críticas contra o ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho, todos os peemedebistas venham a aderir ao novo governo.
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Róbson Marinho em seu gabinete, no segundo andar do Palácio dos Bandeirantes (zona sul de São Paulo), na última quinta-feira:

Folha - O PMDB está criticando a procura individual que o senhor estaria fazendo a seus deputados estaduais em busca de apoio para o governo...
Róbson Marinho - Eu rechaço totalmente. Como coordenador político do governo, eu não procurei nenhum deputado individualmente do PMDB.
Folha - O governo considera imprescindível um acordo com o PMDB para conseguir uma base de apoio na Assembléia?
Marinho - O governo não considera imprescindível. O governo vai conversar com todos os deputados, de todas as bancadas que tenham propósitos semelhantes ao do novo governo.
Folha - As bancadas estadual e federal do PSDB estão insatisfeitas com o governo Covas. O que o senhor acha dessa insatisfação?
Marinho - É absolutamente natural. É uma fase inicial de acomodação e de montagem de um novo governo.
Folha - O governo vai ceder às pressões fisiológicas dos deputados?
Marinho - Não recebemos nenhuma pressão nesses termos, muito menos de deputados do PSDB. Já conversei com a bancada do PTB, do PL, do PDT, PRP e PV e não sofri por parte dos deputados desses outros partidos nenhum tipo de constrangimento.
Folha - Mas eles chegaram a indicar nomes ou pedir cargos?
Marinho - Não. Não houve reivindicação de natureza individual, até porque, se houvesse, seria rechaçada. O governo abre sim a perspectiva de parlamentares, como de outros segmentos da sociedade... O Executivo precisa de nomes para compor os seus quadros, com pessoas de confiança do novo governo. Para isso, os deputados podem fazer a sugestão de nomes, o que não quer dizer que serão agasalhados os nomes sugeridos.
Desde que sejam pessoas probas, competentes e que tenham formação profissional comprovada para o cargo pretendido, o currículo desse indicado será analisado. Mas sem nenhum compromisso de atendimento.
Folha - Além dos partidos que o senhor já citou, quais outros partidos serão procurados para compor maioria na Assembléia?
Marinho - Isso vai ser pontual. Cada projeto vai ser pontual. A maioria é desejável, mas ela não vai ser buscada a qualquer preço.
Folha - Mas há uma tradição fisiológica na Assembléia. Como o governo vai poder abrir mão das negociações com cargos?
Marinho - O eleitor já deu esse recado. Setenta por cento da Assembléia foi renovada. Nós queremos trabalhar respeitando os parlamentares, nas suas atribuições, nas suas competências e, portanto, dando uma contribuição e recebendo uma contribuição para que se valorize a imagem do político perante a opinião pública.

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