São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Quando as fadas aprendem a dançar
ANA FRANCISCA PONZIO
O tema do livro são os contos de fadas e sua apropriação literária e artística ao longo dos séculos. Como consequência natural, a dança acaba merecendo maior enfoque, pela ligação intrínseca com o assunto. Basta lembrar que fadas e bailarinas (no sentido tradicional) são imagens que quase se confundem. "E o Príncipe Dançou..." é um exercício acadêmico associado a rigor jornalístico. Preenchendo as lacunas bibliográficas enfrentadas pela dança no Brasil, a autora cerca de informações as obras e artistas citados –o que concede ao livro um caráter de referência básica para quem quer, por exemplo, saber de onde vem Pina Bausch. Charles Perrault, na França, e os irmãos Grimm na Alemanha, são o ponto de partida de uma série de considerações sobre diferentes contextos. Em vez de conclusões ou interpretações pessoais, "E o Príncipe Dançou..." oferece uma espécie de banco de dados sobre o conto de fadas como manifestação que se renova em ciclos. Examinados sob condições sociais e culturais específicas, os contos de fadas já refletiram o absolutismo patriarcal cristão, protagonizado por "heroínas" dóceis, passivas e ingênuas (fartamente exaltadas nas histórias de Perrault). Em contrapartida, hoje os autores chamados pós-modernos reagem contra o caráter mitológico adquirido pelos contos de fadas, subvertendo e inventando signos. Para compreender esta abordagem contemporânea, Canton focaliza obras de duas coreógrafas-chave –a alemã Pina Bausch e a francesa Maguy Marin, além do grupo norte-americano Kinematic. "E o Príncipe Dançou..." ainda justifica o resgate da narrativa através da reconstrução de "A Menina sem Mãos", dos irmãos Grimm, feita pelo grupo Kinematic. Integrando palavra e movimento, essa companhia também reflete a postura multidisciplinar da atual geração. Painel dos contos de fadas através dos tempos, "E o Príncipe Dançou..." comprova que contar histórias é uma vocação quase inerente ao mundo das artes –em especial quando a crise de final de século desperta o desejo de preservar símbolos e valores de humanidade. Texto Anterior: Contra o sapo da modernidade Próximo Texto: As murchas flores do mal de "Bilitis" Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |