São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 1995
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Nova teoria coloca a Terra no centro de uma bolha no Universo

JOHN GRIBBIN
DA "NEW SCIENTIST"

Há séculos a astronomia desloca a humanidade de posições no cosmos. Primeiro descobriu-se que a Terra gira em volta do Sol; depois verificou-se que o Sol não passa de um membro insignificante de uma galáxia, e mais tarde constatou-se que a própria galáxia é apenas uma entre bilhões de outras. Agora uma equipe de cosmólogos diz que a Terra está no centro de uma bolha, num volume muito maior de espaço em expansão.
Esta hipótese é a mais recente variante da teoria da inflação, que diz que o Universo observável, em sua primeira fração de segundo, expandiu-se de algo menor que um próton. Segundo a chamada "inflação eterna", nunca houve um começo único e o Universo é apenas uma bolha entre muitas, que surgem constantemente saindo de um meio cósmico superdenso.
Segundo a versão convencional da teoria, a expansão rápida força o espaço-tempo nas bolhas a ser "plano", o que significa que a densidade da matéria de cada bolha deve estar a um triz da "densidade crítica", a mínima para algum dia levar a atual expansão a parar. Essa idéia está sendo desafiada por um dos fundadores da teoria da inflação, Andrei Linde, da Universidade de Stanford (EUA) e sua equipe.
Eles dizem que o Universo é como um buraco num meio cósmico superdenso, que contém outros buracos. Calculou-se a probabilidade de a Terra se encontrar numa região deste superuniverso que possua uma densidade determinada –por exemplo, a densidade do próprio Universo.
Eles afirmam que a maior parte da matéria com densidade específica está perto do centro de uma bolha, que possui material mais denso em suas margens.
Como regiões muito densas crescem exponencialmente, dobrando de tamanho numa fração de segundo, o volume de todas as regiões com qualquer densidade equivale a multiplicar por 10 elevado à potência de 10 milhões o volume das regiões do superuniverso com metade dessa densidade. Assim, embora exista material de maior densidade em volta das margens das bolhas de baixa densidade, há uma quantidade muito maior de material mais denso nos centros de bolhas de alta densidade, e assim por diante.
Esta estrutura fractal é surpreendente. Como a densidade não é uniforme, isso significa não só que talvez vivamos perto do centro de um universo-bolha, mas também que a densidade do espaço que conseguimos enxergar pode ser inferior à densidade crítica e que isso seja compensado por densidade extra situada fora do campo de visão humano.
Estas observações assumem que a constante de Hubble, o parâmetro que mede a rapidez da expansão do universo, é a mesma por toda parte no universo observável. Se a equipe de Linde estiver certa, porém, o valor medido da "constante" pode ser diferente para galáxias a diferentes distâncias de nós e isso causaria grande estrago nas teorias cosmológicas. É possível que vivamos num universo em que tanto a densidade medida quanto o valor da constante de Hubble são diferentes, em diferentes pontos.

Tradução de Clara Allain

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