São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 1995
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Cresce o número de milícias nos EUA

DANIELA ROCHA
DE NOVA YORK

Grupos paramilitares, ou milícias, estão se formando nos Estados Unidos com um objetivo bem definido: lutar contra decisões do governo norte-americano que restrinjam suas liberdades.
As milícias são grupos formados em sua maioria por homens brancos, que têm entre 20 e 50 anos. São em geral profissionais liberais ou pequenos empresários.
Um fim-de-semana por mês, o grupo se reúne para treinamento militar. Vestem roupas camufladas, apanham armas e barracas e acampam por dois dias numa área privada de floresta, onde fazem treinamento de resistência física e de técnicas militares, como estratégia de combate e tiro ao alvo.
As milícias levam os nomes dos Estados onde se concentram. Uma das maiores é a Milícia de Michigan (Estado localizado a nordeste dos EUA), com 12 mil integrantes, segundo um de seus fundadores, Ray Southwell.
Uma parte do grupo da Milícia de Michigan reúne-se em uma pequena cidade próxima ao lago de Michigan, chamada Brutus.
A Milícia de Michigan foi criada em abril de 94 pelo reverendo da igreja Batista do Calvário em Alanson (Michigan), Norman Olson, 48, e seu discípulo Southwell, mas ganhou mais adeptos em novembro, quando o Congresso norte-americano aprovou o projeto do presidente Bill Clinton de controle da venda de armas de fogo.
"Todo cidadão é livre para ter sua arma e proteger sua propriedade. Por isso, entendo que o governo é uma ameaça à nossa liberdade", afirma Southwell.
Ele esclarece que o grupo é contra qualquer controle imposto pelo governo dos EUA. "Temos nosso próprio ideal para questões como educação, meio-ambiente e aborto, por exemplo. Cada integrante da milícia é regido pela sua própria consciência", explica.
Contribuições voluntárias mantêm a instituição. Eu pago US$ 1.500 só de telefone por mês, em serviço à milícia, disse Southwell, que é dono de uma loja de armas em Alanson, Michigan.
A comunicação entre as milícias é sofisticado. Os integrantes mantêm uma rede de computadores para ter acesso "on line" a informes e lançam diariamente seus próprios boletins. "Acreditamos que a imprensa camufla a verdade e por isso mantemos um sistema de comunicação sem repórteres, mas com uma rede de informantes".
Filosofia
A filosofia das milícias, segundo seus membros, é centrada em um esforço patriótico de trazer os governos federal e estadual de volta aos princípios constitucionais.
Segundo eles, os governos estão se excedendo no poder e devem ser contidos antes que estejam poderosos demais sem que ninguém apresente resistência.
"Queremos evitar que aconteça nos Estados Unidos o que aconteceu no Brasil: uma ditadura", afirmou Southwell.
As milícias consideram os estrangeiros como inimigos. Elas pregam o fim do exército da ONU, por se tratar de uma força estrangeira que pode vir a ameaçar a propriedade dos norte-americanos.
As milícias temem a chamada "Nova Ordem Mundial", em que o planeta seria governado por um regime totalitário comunista. Para aproximar as milícias, foi fundado o Movimento Patriótico (Patriot Moviment), que teve sua última reunião, a Convenção Patriótica, em 12 de novembro, em Cambridge, Massachusetts. O Movimento Patriótico é considerado uma conglomeração de princípios ultra-conservadores.
Na reunião, expôs-se os objetivos da milícia para novos adeptos que iniciariam seu treinamento.
Os pré-requisitos para entrar na milícia são simples: ter os mesmos ideais –todas as milícias têm um manual para seus integrantes– e ter arma e uniforme próprios. "Recebo mais de cem telefonemas por semana de pessoas do mundo inteiro que se identificam com nossos ideais", disse Southwell.
Neste caso, segundo Southwell, os estrangeiros não são inimigos. "Eles têm os mesmos ideais que nós e é isso que importa".

LEIA MAIS
Sobre exércitos privados nos EUA na página 3-4.

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