São Paulo, sexta-feira, 20 de janeiro de 1995
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Um escândalo

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Prosseguia ontem o rancor verbal contra o aumento nos salários dos parlamentares.
Segundo a Cultura, a aprovação aconteceu "na calada da noite", através de uma "ação orquestrada" entre senadores e deputados. Segundo a Manchete, com sarcasmo, "foi uma noite longa, de muito trabalho, como raramente se vê". Segundo a Globo, no Jornal Nacional, os parlamentares votaram "até no escuro", literalmente, tamanha a sofreguidão.
Tanto fizeram que até o presidente da República, capaz de tudo para não bater de frente com o Congresso, surgiu qualificando o aumento como "um escândalo", pelo menos no relato de um governador petista, na CBN e nas redes de televisão. Por falar em petista, a CUT, claro, "anunciou uma mobilização geral em repúdio aos aumentos".
No festival de ataques ao Congresso, porém, nenhum chegou perto daquele feito pelo âncora do TJ.
Não foi por conta do aumento dos salários, mas pela anistia do presidente do Congresso, Humberto Lucena. Seguindo a lógica da anistia, disse Boris Casoy, "ladrão que devolver o dinheiro não é punido". Irritado e na impossibilidade de usar palavra mais adequada, o âncora acabou por qualificar a decisão de "uma diarréia".

Em dia de explicações
Pedro Malan, que começou frio e intocável, no governo, passa a reagir como se espera de um verdadeiro ministro da Fazenda, no Brasil.
Na audiência ao Congresso, como mostraram os telejornais, ele atacou a "má-fé" de quem anda falando em manipulação de números, na balança comercial. Estava irritado, revoltado até. Também buscou sublinhar as diferenças entre o Brasil e o México, mas sem muito sucesso, junto aos comentaristas de economia, pelo menos.
Para contrapor-se à exasperação do ministro, em dia de explicações, Cid Moreira anunciou com um largo sorriso que a "inflação mantém tendência de queda em São Paulo".

Nova era
Alexandre Garcia, para marcar um momento que considera de mudança fundamental, deixou Brasília e seus ministérios para trás e foi anunciar e elogiar a aprovação do projeto que altera a concessão de serviços públicos diante de uma usina de energia elétrica. É o início do processo de privatização, no seu entender. Ou do vale-tudo.

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