São Paulo, sexta-feira, 20 de janeiro de 1995
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Balança registra déficit recorde

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Pedro Malan (Fazenda), 51, anunciou ontem o maior déficit comercial em um único mês da história do país, atingido em dezembro, que foi de US$ 884 milhões.
O anúncio foi feito em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. O saldo negativo resultou da diferença entre US$ 4,611 bilhões importados e US$ 3,727 bilhões exportados.
Malan informou também que o déficit comercial de novembro foi de US$ 492 milhões e não de US$ 262 milhões. Naquele mês, as exportações somaram US$ 3,706 bilhões e as importações, US$ 4,198 bilhões.
O déficit de novembro foi quase o dobro que o divulgado e o de dezembro praticamente dezenove vezes maior.
O ministro da Fazenda responsabilizou um funcionário do Ministério da Indústria e Comércio, cujo nome não foi citado, pelo erro na balança de dezembro (veja quadro nesta página).
O culpado pelo erro de novembro, disse Malan, foi a greve dos Correios, que atrapalhou o processamento de dados na Receita.
Os novos dados reduzem em US$ 1,067 bilhão o superávit da balança comercial de 94. O saldo do ano ficou em US$ 10,391 bilhões e não em US$ 11,4 bilhões.
Malan disse que vai incentivar as exportações, mas não deu detalhes. "Não vou antecipar informações para os especuladores", justificou.
O ministro explicou que o governo pretende gerar pequenos déficits em conta corrente, entre 1% e 1,5% do PIB, ou seja, entre US$ 4,5 bilhões e US$ 7 bilhões.
Em 94, o déficit em conta corrente foi US$ 1,8 bilhão (cerca de 0,4% do PIB estimado em US$ 500 bilhões).
Durante a palestra de Malan no Senado, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), criticou a política externa do governo. Segundo Suplicy, a responsabilidade pela supervalorização do real, que desestimula as exportações, não é do mercado, mas do governo.
Malan afirmou que o Brasil não repetirá a crise do México se o ajuste fiscal e as reformas constitucionais forem implantados.
Ele divulgou estimativas preliminares do governo indicando ser de US$ 15 bilhões a parcela das reservas cambiais brasileiras (US$ 40 bilhões) suscetível aos efeitos da crise mexicana.
São recursos estrangeiros que entram no país para aplicações em Bolsas de Valores e que podem sair do país a qualquer momento.
A vantagem da situação econômica do Brasil em relação ao México "desautoriza previsões alarmistas", afirmou Malan. Segundo ele, o México errou ao financiar com recursos de curto prazo seu déficit em conta corrente.
Para chegar à situação mexicana, o Brasil teria de acumular em 1994 um déficit em conta corrente de US$ 50 bilhões, o equivalente aos US$ 30 bilhões registrados no México e que correspondem a 9% do PIB daquele país.
O ministro da Fazenda determinou uma investigação nos escalões inferiores do governo para descobrir quem vazou para o mercado o déficit da balança comercial. As maiores suspeitas recaem sobre a Receita Federal do Rio, que totaliza as importações.
Setores do mercado financeiro tiveram acesso à informação de que o déficit ficaria próximo a US$ 1 bilhão na última sexta-feira. Na tarde daquele dia, uma empresa de consultoria econômica de São Paulo recebeu telefonemas de clientes perguntando se ela era verídica.
A Folha apurou que a ministra Dorothéa Werneck, da Indústria e Comércio, foi avisada do erro no último dia 5, pelo ex-secretário do Comércio Exterior, Jorge Chami.

LEIA MAIS
Sobre balança comercial às págs. 2-4 e 2-8

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