São Paulo, sexta-feira, 20 de janeiro de 1995
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Frankenstein é adolescente rebelde

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

Ainda que Bela Lugosi ("Frankenstein Contra o Lobisomem") e Lon Chaney Jr. ("O Fantasma de Frankenstein") o tenham encarnado nos anos 40, foi com a modorrenta e patética persona de Karloff que ele se celebrizou. Ao todo em três filmes. O segundo, "A Noiva de Frankenstein", com Elza Lanchester na dupla função de noiva e Mary Shelley, também era do talentoso Whale. O terceiro, "O Filho de Frankenstein", infelizmente já não era. E Karloff resolveu guardar os seus parafusos e os seus remendos.
Para sempre. Em "A Mansão de Frankenstein", ele se limitou a vestir o guarda-pó do dr. Victor e a costurar Glenn Strange, seu sucessor na década de 40. Parecia aposentado de vez quando aceitou fazer o papel de um parente distante do dr. Victor em "O Castelo de Frankenstein". Àquela altura, o moderno Prometeu já havia sido encarnado até por Michel Piccoli (numa paródia de curta-metragem) e pelo lutador Primo Carnera (num filmeco de TV). O herdeiro de Karloff era, então, outro inglês, Christopher Lee, o pau-para-toda-obra da Hammer, a mais ativa usina de horror dos anos 50.
Há exatos 85 anos que Frankenstein surgiu pela primeira vez numa tela de cinema, em duas bobinas produzidas por Thomas Edison e estreladas por Charles Ogle. Seis anos depois, Percy Daniel Standing repetiria o feito de Ogle. Entre esses dois e Karloff interpôs-se o italiano Luciano Albertini. Como se vê, há muito tempo que Frankenstein virou um fenômeno internacional. Até no Japão, com o nome de Furankenxutaim, ele já reencarnou. Na Espanha, também.
Fugindo ao padrão ogro mal costurado, Michael Sarrazin conseguiu impor uma imagem diferente no telefilme "Frankenstein: The True Story", que, segundo consta, não deixou herdeiros. A feição que todos querem é, mesmo, a tradicional. Não importa o sotaque. Nem o sexo. Que o digam Elza Lanchester, Sandra Knight, Sally Todd, Susan Denberg e Narda Onyx, os mais notórios sucedâneos femininos de Karloff.
Novamente em voga desde a década passada, quando até o sarau literário que deu origem ao romance virou filme ("The Haunted Summer"), Frankenstein continua faturando a sua perene relevância. Descobriram agora que ele não é apenas um Prometeu moderno e um Édipo sem Jocasta, mas também o mais ilustre ancestral dos nossos adolescentes rebeldes.
Assim, ao menos, pensa o psicólogo polonês Kazimerz Pospiszyul, reitor da Escola de Pedagogia de Varsóvia, que em tese recente identificou Frankenstein como o arquétipo sem-par dos tempos atuais. Segundo ele, "a tensão entre o monstro e seu criador são exemplo perfeito dos conflitos na relação familiar que desenvolvem e intensificam as piores características dos filhos: a crueldade, a insensibilidade e o descontrole de emoções. Nela aparece somente um dos pais, o criador do monstro, situação comum nas famílias modernas, com pais separados, amor insuficiente e complexo de rejeição. Razão pela qual os filhos se transformam em Frankensteins, o monstro que condena o seu criador".

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