São Paulo, sexta-feira, 20 de janeiro de 1995
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Epitaph quer montar filial na América do Sul

MARCEL PLASSE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quinze anos depois que a banda Bad Religion criou a Epitaph Records para lançar seu primeiro disco, um representante da gravadora, Jay Ziscrout, 32, chega ao Brasil para sondar o mercado, com a intenção de montar uma sede na América do Sul.
Jay Ziscrout, ex-baterista do Bad Religion, está viajando pela América do Sul há um mês, vindo de Amsterdã, onde ajudou a montar uma filial da Epitaph.
"Recebemos muitas cartas do Brasil", Ziscrout revela, em entrevista à Folha, nos estúdios da Brasil 2.000 FM. "Sabemos que existe um bom público para a nossa música aqui, mas até o ano passado os discos da Epitaph só eram disponíveis via importadora."
Sua presença coincide com o lançamento dos primeiros discos da Epitaph no Brasil ("Recipe For Hate", do Bad Religion, "Punk in Drublic", do NOFX, e "Pennywise", do grupo de mesmo nome) pelo selo Paradoxx. Ele pretende negociar, nos próximos dias, o resto do catálogo da gravadora, que inclui o bem-sucedido grupo Offspring –3 milhões de cópias vendidas do LP "Smash".
O punk rock da Epitaph cresceu além dos sonhos de seus fundadores. O mesmo tipo de influência que a gravadora independente Sub Pop (que lançou Nirvana) imprimiu no rock americano do início da década, começa a ser esboçada agora pela Epitaph.
Hardcore, estilo musical que teve seu primeiro pico no início dos anos 80 e é a matéria-prima da gravadora, virou o som do momento, como atesta o estouro simultâneo do Offspring e do grupo Green Day (Warner Music).
Ao fazer um paralelo entre a cena hardcore dos anos 80 e os fenômenos de vendagem dos últimos meses, Ziscrout se diz "o Pete Best do Bad Religion", referindo-se ao baterista que deixou os Beatles antes do sucesso.
"O Bad Religion (hoje na Sony Music) construiu uma reputação consistente sem nenhum 'hype', por meio de propaganda boca a boca, bons shows e bons discos", ele compara. "O sucesso do Offspring é diferente. Vem de dois 'hits', que as rádios começaram a tocar do nada. A Epitaph nunca tivera um hit antes, nem procurara ter. O resto foi uma bola de neve, com a entrada da MTV."
A diferença entre os estouros de Offspring e Green Day, segundo Ziscrout, é que a Warner despejou "toneladas e toneladas de dinheiro" para fazer o segundo render.
A coincidência de duas bandas do estilo hardcore brigarem pela proeminência nas paradas de sucesso dos EUA traz a pergunta inevitável: por que agora? A palavra mais dita na década vem aos lábios de Ziscrout: "Nirvana". "Não do jeito que as pessoas pensam. O sucesso de grupos como Nirvana e Guns N'Roses acostumou os ouvidos das pessoas a melodias mais agressivas. A evolução foi gradual e progressiva."
Além de trabalhar para a Epitaph, Ziscrout está lançando uma nova gravadora, Grita, especializada em hardcore latino, para a qual procura bandas no Brasil. Candidatos devem cantar em português ou espanhol.
Ele descreve a Grita como "uma versão latina da Epitaph". "Estou interessado na perspectiva latina", ele explica. "Tempos difíceis, corrupção e crise econômica costumam gerar ótima música. A experiência de uma banda latina tende a ser muito mais visceral do que a de um moleque classe média da Califórnia, que um dia levanta de sua confortável poltrona e diz: 'Vamos montar uma banda punk'."
Assim como a sede latina da Epitaph, o escritório da Grita deve ser instalado no Chile nos próximos meses. O país é o mais cotado até o momento, segundo Ziscrout, devido a impostos menos onerosos. "O dinheiro que economizar com as taxas, vou poder usar em viagens pelo continente."

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