São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 1995
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Série dos EUA busca segredos do cinema

DANIELA ROCHA
DE NOVA YORK

O glamour e os segredos da indústria do cinema americano e de quem o faz está em "American Cinema", série que o canal 13 da TV americana começou a exibir anteontem. O documentário é uma co-produção do The New York Center for Visual History com Kcet de Los Angeles e BBC.
A série abriu colocando no ar as perguntas: O que faz de um filme de Hollywood ser um filme de Hollywood, ou seja, com um "appeal" universal? É o estilo, são os atores, é o diretor? A resposta, dada ainda na introdução do programa, é tudo isso.
O documentário tem dez horas e sua primeira parte foi sobre o "estilo hollywoodiano", que contou com depoimentos de cineastas, autores e editores sobre como fazer um filme ser entretenimento.
Martin Scorcese, por exemplo, citou clássicos de Orson Welles e Hitchcock.
"Assisto filmes antigos, dos anos 20 e 30, atento aos movimentos de câmera", disse, enquanto se exibia a imagem de cenas de valsa em filmes preto e branco justapondo-as às cenas de valsa de "A Idade da Inocência".
"Hollywood é uma fábrica de histórias. Cresci vendo filmes americanos e imagino o brilho que essa indústria tinha nos anos 20, quando havia uma grande integração nos estúdios", afirmou Scorcese.
A primeira parte exibiu cenas que são verdadeiras pérolas do cinema, como diálogos de "All About Eve", cortes e olhares de Bergman e Bogart em "Casablanca", cenas surreais de "Cidadão Kane", "takes" da claustrofobia em um táxi dirigido por Robert De Niro em "Taxi Driver" e a poesia de "ET".
Sydney Pollack comentou a magia do entretenimento em "O Mágico de Oz". O sucesso do cinema americano está, segundo ele, na distância entre o público e o que se exibe na tela. "A distância entre as estrelas e o público é enorme, mas a identificação do público com o que acontece na tela, com a história, é imensa", disse.
Pollack citou o sucesso das histórias de amor no cinema. "Histórias de amor são intransponíveis e só são de amor porque são tragédias, provocam uma tristeza satisfatória no público."
Intercalando entrevistas com escritores, produtores e editores, o programa mostrou uma riqueza documental de fotos do backstage das produções de Hollywood e cenas de mais de trinta filmes considerados épicos do cinema mundial, além de declarações incríveis como a de Hitchcock sobre o suspense: "Criar medo que provoque o público é o meu trabalho".
Um dado curioso, talvez, é que o programa pôs em segundo plano uma das mais importantes categorias do cinema americano: o western, resumindo-o a cenas rápidas de filmes de John Ford.
Mas a elegância de diretores e atores, o glamour da premiação do Oscar e a magia dos estúdios foi brilhantemente exibida na primeira parte de "American Cinema", em um resumo bem apresentado do que é a "fábrica de sonhos" hollywoodiana.

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