São Paulo, sábado, 28 de janeiro de 1995
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Noruega pede à Rússia explicação sobre foguete

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O embaixador da Noruega em Moscou, Per Tresselt, pediu ontem explicações à Rússia sobre o incidente envolvendo foguete científico norueguês supostamente confundido com um míssil militar.
A confusão por parte da Rússia levou o presidente Boris Ieltsin dizer que o lançamento teria sido um teste às Forças Armadas.
"Há razão para algum desapontamento. Nós queremos esclarecer essa história e descobrir o que aconteceu", disse Tresselt.
O foguete foi lançado na quarta-feira. O presidente russo teria usado pela primeira vez a maleta preta que contém os códigos que destravam dispositivos de segurança das armas nucleares.
"Alguém nos quis pôr à prova, já que a imprensa diz que nosso Exército está debilitado", disse Ieltsin anteontem.
"Pensavam que não detectaríamos o foguete, mas em menos de um minuto sabíamos onde ele havia sido lançado, qual a sua velocidade e onde ele iria cair".
A Noruega protestou, pois diz ter avisado com antecedência sobre o foguete, que caiu a mais de 1.000 km da Rússia, na ilha Spitsbergen (norte da Noruega).
"Há motivo para preocupação se o presidente do país com o maior arsenal nuclear europeu tem informação errada", disse Tresselt.
A Rússia tentou minimizar o incidente. Segundo Tresselt, o ministério do Exterior informou que Ieltsin não usou a maleta preta, mas apenas o sistema de comunicação de emergência.
"Normalmente, a expressão maleta preta se referia aos códigos para as armas nucleares. Mas parece que agora quer dizer apenas o sistema de comunicação", afirmou.
O porta-voz do ministério do Exterior da Noruega, Ingvard Havnen, disse que seu país não havia determinado o dia do lançamento, mas apenas avisado que se daria no prazo de duas semanas.
"Isso é parte do procedimento normal porque é o clima que determina o dia exato do lançamento. É o procedimento que seguimos há 32 anos". A mesma base lançou 607 foguetes desde 1962.
Oficiais russos confirmaram terem sido avisados sobre o míssil.
Vários analistas concordam ser improvável que a Rússia realmente tenha confundido os mísseis.
Segundo alguns, Ieltsin teria inflado o incidente para recordar que a Rússia é uma potência nuclear e reafirmar seu comando, apesar das inúmeras críticas que recebe e da queda em sua popularidade.
Outros afirmam que o presidente quis elevar o moral dos militares, abalado pela guerra da Tchetchênia. Seria uma forma de mostrar a "eficiência" do Exército.
Há ainda quem diga que os militares montaram toda a operação para mostrar ao presidente russo sua eficiência e arrancar dele alguns elogios. Segundo essa versão, Ieltsin estaria sendo manipulado pelos militares.

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