São Paulo, sábado, 28 de janeiro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
A igualdade é produtiva
FRANCISCO DE OLIVEIRA Matéria da "The Economist" de 5/11/94, vol. 333, nº 7.888, traz interessante gráfico relacionando igualdade e produtividade do trabalho, entre 1979-90. Os países mais igualitários na distribuição da renda são também os que alcançam as melhores performances na produtividade do trabalho; os desigualitários –EUA, Suíça, Austrália e Nova Zelândia–, por oposição, apresentam os piores desempenhos.Essa relação positiva entre igualitarismo e produtividade é conhecida há muito e foi a base sobre a qual se construiu a política social-democrata, consolidando a democracia nos países mais desenvolvidos. Tal relação positiva não foi um acaso da economia, mas uma bem-sucedida construção política. A onda vitoriosa do neoliberalismo jogou essa antiga constatação às urtigas. A oportunidade de matérias desse tipo é que ajudam a problematizar essa "unanimidade burra" do governo brasileiro e empresários, favoráveis às posições neoliberais. Além do mais, a performance da economia, que se caracterizou no biênio 93/94 por um extraordinário aumento da produtividade expresso no crescimento do PIB "per capita", é perfeitamente compatível com a elevação do salário mínimo, tornando-o não-inflacionário. A Fiesp, em matéria desta Folha de ontem, 27/01/95, dá notícia de um crescimento de 7% para 94 em relação a 93, na indústria paulista. Só no setor automotivo, a produtividade do trabalho cresceu nos dois últimos anos 49%! Talvez a elevação do salário mínimo seja incompatível com a política do Plano Real, que é a de amarrar-se à moeda norte-americana e vencer a inflação pelas reservas cambiais. Qualquer mudança na relação câmbio-salários, em políticas desse tipo, é considerada maléfica. Mas, neste caso, maléfica é a concepção do plano, posto que entre os países mais igualitários e mais produtivos estão economias voltadas para fora. Além da Finlândia, avis rara no mundo capitalista, vale o exemplo do Japão? Há o argumento do impacto negativo sobre a Previdência Social. Trata-se de um argumento simplório. O impacto imediato pode ser compensado tanto por uma rigorosa cobrança das contribuições previdenciárias ao empresariado pequeno, médio e grande, notórios fraudadores, o que ajudará, inclusive, a combater o emprego informal, quanto por um empréstimo que o governo pode lançar a todos contribuintes, inclusive assalariados. Tal empréstimo poderia ser devolvido no futuro e/ou transformado numa espécie de bônus que os contribuintes utilizariam para convertê-los em "anos-equivalentes" de contribuição. No longo prazo, a reforma da Previdência evidentemente inclui uma dilatação das idades para aposentar-se, devido ao fato de que a expectativa de vida está se expandindo, ainda que com fortes defasagens entre as regiões do país. Uma boa reforma da Previdência, sem o atropelo e a ânsia punitiva dos economistas oficiais, será suficiente para afastar o fantasma da falência total do sistema previdenciário. Por trás da discussão falsificada sobre a Previdência, escondem-se os apetites para privatizar o que é o quarto ou quinto maior mercado de previdência do mundo. Texto Anterior: Um espetáculo de maniqueísmo Próximo Texto: Sempre existe um "mas" Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |