São Paulo, sábado, 28 de janeiro de 1995
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Herança pesada

Prestes a completar um mês à frente do Palácio dos Bandeirantes, o governador do Estado de São Paulo, Mário Covas, foi pródigo em queixar-se da situação financeira que seu antecessor, Luiz Antônio Fleury Filho, lhe legou.
Parece claro que o adjetivo "perdulário" é brando demais para qualificar a gestão de Fleury. A dívida do Estado sofreu aumento substancial. Fleury não pagou o serviço da dívida anterior, adicionando ao valor já devido as imensas parcelas de juros não pagos. Contraiu ainda algumas novas dívidas. Educação e saúde afundaram ainda mais no caos. Poucas obras importantes foram realizadas. O empreguismo deu a tônica da administração.
O novo governador soube reclamar com veemência da herança recebida, mas fez muito menos do que poderia para colocar um pouco de ordem na casa, afora divulgar alguns números desencontrados sobre demissões em estatais e produzir alguma confusão a respeito do futuro do Baneser.
Constatado o caos que lhe foi legado, o novo governador tem o dever de buscar saídas para que as finanças do Estado encontrem o equilíbrio. Isso, é claro, sem o prejuízo de realizar investigações sobre eventuais irregularidades cometidas pela administração anterior.
É bem verdade que Covas parece disposto a rever as inúmeras contratações –muitas delas políticas– feitas pela gestão Fleury. E, muito embora livrar-se de alguns sanguessugas que vivem à custa do dinheiro público sem trabalhar seja um passo importante do ponto de vista ético, ele é certamente insuficiente para equilibrar as tão maltratadas contas do Estado.
Uma forma de conseguir algum alívio financeiro e, ao mesmo tempo, livrar-se de algumas das principais fontes de desperdício dos recursos públicos é o programa de privatização. E, nesse assunto tão vital, Covas não avançou. Ao contrário até, manifestou-se contra uma eventual privatização do Banespa.
Mais importante do que chorar o leite derramado é encontrar novas formas de gerir a coisa pública para não acabar ficando sem o leite.

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