São Paulo, sábado, 28 de janeiro de 1995
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O efeito Constituição

CLÓVIS ROSSI

DAVOS (SUÍÇA) – Um empresário norte-americano com US$ 250 milhões de dólares investidos na Argentina (em empresas e não em papéis) foi um dos mais ansiosos comensais do almoço ontem programado pelo Fórum Econômico Mundial como sessão de atualização sobre a América Latina.
"Ele queria saber se seus US$ 250 milhões se transformarão em US$ 100 milhões ou em US$ 300 milhões", contou depois do almoço o economista venezuelano Moisés Naim, que fez a exposição sobre a conjuntura latino-americana.
Naim é PhD pelo mitológico MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), foi ministro da Indústria em seu país em 89/90 e, hoje, trabalha no Instituto Carnegie para a Paz Internacional, em Washington.
A ansiedade do empresário só mostra que está sendo no mínimo insuficiente todo o esforço das autoridades argentinas, em especial de seu ministro da Economia, Domingo Cavallo, para demonstrar que a Argentina não é o México.
Por esse exemplo, pode-se deduzir que há uma porção de empresários e/ou investidores que gostariam de fazer perguntas sobre o Brasil. E não apenas a uma autoridade periférica na política econômica, como a ministra Dorothéa Werneck, que representará o governo brasileiro no Fórum de Davos, mas a Pedro Malan e José Serra (Fazenda e Planejamento, respectivamente).
Só que os dois não puderam vir a Davos, porque estão empenhados nas reuniões em que o Executivo explica as reformas constitucionais às bancadas governistas.
Naim, em todo o caso, justifica as ausências: "Antes de sair por aí para vender um produto (no caso, o Brasil), você precisa ter um produto confiável. Desse ponto de vista, a Constituição brasileira desestabiliza, inerentemente, a política macroeconômica", diz o economista venezuelano.
Se é mesmo assim, o Brasil corre o risco de embriagar-se com o efeito Constituição antes mesmo de experimentar o chamado "efeito tequila", ou seja, o respingo da crise mexicana sobre os demais países latino-americanos.

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