São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 1995
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Guitarras salvam show dos Stones

Richards usou técnica 'brasileira'

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Com aquela pose de velho bandalho, o guitarrista Keith Richards devolveu ao Brasil durante o show, acredite, um truque que aprendeu por aqui em 1969: afinar sua guitarra num acorde aberto de Mi maior –o que, de resto, acabou diferenciando com glamour os timbres de suas guitarras durante toda a apresentação.
Foi na fazenda de Walter Moreira Salles, em Matão, que Richards aprendeu com os violeiros caipiras a técnica de trocar a afinação tradicional por um acorde aberto. O Stone acabou confessando que esse truque brasileiro seria a principal artimanha do grupo no álbum "Beggar's Banquet" e, no primeiro show dos Rolling Stones no Brasil, Richards usou-a pelo menos cinco vezes: foi por isso que o público o viu trocar tanto de guitarra.
Os técnicos dos Stones erraram, sob chuva, na calibragem dos timbres de toda a banda. Só se ouviam os timbres graves e agudos. Não existiam os médios, que é o que acaba acertando a orelha do público em apresentações a céu aberto. E, na rigorosa impossibilidade de se consertar tudo na última hora, foi o velho Richards que salvou a noite.
Ronnie Wood, o solista oficial dos Stones, chamou mais a atenção dos ouvintes só porque tocava alto. Foi brilhante em "Jumping Jack Flash", "Start Me Up", "I Go Wild", "Love Is Strong".
Mas, visto pelo lado técnico, ele nada mais fazia do que ecoar os velhos temas de Keith Richards, acrescentando-lhes duas ou três notas sincopadas –um jogo que os dois chamam oficialmente de "trancing" e que pega o leigo pela orelha, sem que este saiba de onde partiu toda a magia. "Se Keith faz um 'tá', eu respondo com eco, devolvendo um tá, tá, tá, tá", tentava resumir Ronnie Wood aos críticos norte-americanos, no início da atual turnê.
Sem grandes vôos solitários, sem sons espectrais e sem espasmos de barulheira pura, Keith Richards e Ronnie Wood mostraram que a saída mais honrosa para o blues e o rock continua, ainda, o velho chavão do jazz: " less is more" (quanto menos, melhor).

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