São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 1995
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A Ford Stock Company

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

Ford não era comunal só na tela. Durante as filmagens também se deleitava com a convivência de amigos e parentes. Trabalhar com uma equipe fixa era hábito comum em Hollywood, oito décadas atrás. Todos mudaram, menos Ford, que nunca abriu mão de sua patota (ou "stock company", como a chamavam). "É muito mais fácil filmar com quem a gente já conhece", alegava. Havia na "Ford Stock Company" membros permanentes e circunstanciais. Atrás e diante das câmeras.
Atrás: os assistentes Edward O'Fearna (irmão do cineasta) e Wingate Smith (seu cunhado), os roteiristas Dudley Nichols, Frank S. Nugent, Nunnally Johnson, Lawrence Stallings e John Lee Mahin, os diretores de fotografia Gregg Toland, Joseph August, Archie Stout, Winton C. Hoch, Bert Glennon e Arthur Miller, os músicos Richard Hageman, Victor Young e Max Steiner, o cenógrafo e mestre em efeitos especiais James Basevi.
Diante: os atores Harry Carey (e depois seu filho, Harry Carey Jr.,), John Wayne, Henry Fonda, James Stewart, Ward Bond, Victor McLaglen, John Carradine, Wallace Ford, Barry Fitzgerald, Arthur Shields, Ben Johnson, Russell Simpson, Ricardo Cortez, Willis Bouchey, Dan Borzage, Ken Curtis, Woody Strode, e as atrizes Maureen O'Hara, Anna Lee, Jane Darwell, Olive Carey e Dorothy Jordan.
A maior concentração de fordianos deu-se durante as filmagens de "O Último Hurra". Todos os seus quase 30 atores, com duas ou três excessões (e uma delas era Basil Rathbone), já haviam trabalhado pelo menos uma vez com o cineasta.
Ford comandava sua trupe como um autêntico "pater familias", não muito diferente do Donald Crisp de "Como Era Verde o Meu Vale". Aparentemente calmo, aplacava sua tensão mascando charutos e a ponta dos lenços feitos à mão que importava da Irlanda. Consumia uma dúzia de lenços por dia.
Nunca olhava o roteiro nem fazia consultas à sua "script girl", Meta Sterne. Trazia tudo na cabeça –e adorava improvisar. Respeitoso, não permitia palavrão diante das mulheres nem bebida no serviço. No meio da tarde, suspendia o trabalho para um chá (Earl Grey) coletivo, durante o qual quem falasse em cinema era multado em 25 centavos. Não era o único ritual fordiano. Toda vez que os cenários de seus filmes eram derrubados, Danny Borzage (irmão do cineasta Frank Borzage) tinha de pegar sua harmônica e tocar "Bringing in the Sheaves".

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