São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 1995
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Presidente Carlos Menem desiste de estilo exibicionista

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

O presidente Carlos Menem espera conquistar o segundo mandato nas eleições de 14 de maio com 50% dos votos, apesar do aumento do desemprego e da crise financeira desencadeada pela desvalorização do peso mexicano.
Apostando na vitória certa no primeiro turno na Argentina, Menem mudou de comportamento.
Abandonou o exibicionismo com artistas, jantares em restaurantes da moda, passeios nos iates de amigos e companhias femininas em locais públicos que possam gerar especulações.
Menem está separado de Zulema Yoma, mas o divórcio ainda está em tramitação judicial.
Segundo a Folha apurou, ele não pretende se divorciar legalmente de "la loca", como se refere à ex-mulher em conversas com ministros e colaboradores, antes das eleições.
O secretário geral da Presidência da República, Eduardo Bauzá, conseguiu convencer Menem de que um presidente popular, num país com problemas grandes sociais, não combina com exibicionismo, marca do estilo menemista.
Com o sinal verde de Menem, Bauzá advertiu o círculo mais íntimo do presidente de que a "farândula" (como é conhecido o excessivo exibicionismo dos menemistas na noite portenha) poderia custar melhares de votos da classe de renda baixa.
Coincidentemente, o livro mais vendido no verão argentino é "Pizza con Champan - Crônica de la Fiesta Menemista" (Pizza com Champanhe - Crônica da Festa Menemista), da jornalista e socióloga, Sylvina Walger.
Ela define o menemismo como sinônimo de"show off desatinado, neovulgar triunfante e a cirurgia estética como categoria de penamento: Me opero, logo existo".
O próprio Menem já fez aplicações de colágeno no rosto e operou as pálbebras.
A advertência de Bauzá foi endereçada especialmente a Mario Falak, Gerardo Andrés Sofovich, Armando Gostanian e Ramón Hernández, que integram a reservada corte menemista.
Falak, filho de imigrantes sírios, é um dos proprietário do sofisticado Hotel Alvear, usado como reduto das principais comemorações menemistas.
Ele oferece seu iate Concorde, avaliado em US$ 450 mil, para festas dos aliados de Menem.
Gostanian, chamado por Menem de "El gordo", é empresário. Foi presenteado pelo amigo com a presidência da Casa da Moeda.
Não hesitou em imprimir cerca de 500 mil notas com a cara do presidente e as distribuiu em Punta Del Este (Uruguai) em 1992.
Sofovich é um dos empresários que disputam com Falak a atenção do presidente. Ganhou a direção do único canal de televisão estatal argentino, ATC.
Comprou um iate de US$ 350 mil, o Honey Moon, para também levar o presidente ao mar.
Hernández é um dos homens com maior influência junto a Menem, com o poder de marcar a agenda presidencial.
Adora relógios Rolex e canetas Mont Blanc, que também marcaram a era do ex-presidente Fernando Collor no Brasil.
Até agora, todos cumprem à risca a orientação da Casa Rosada. Evitam dar entrevistas e até mesmo mudaram de comportamento neste verão: abandonaram as noitadas em Punta Del Este.
Zulemita, filha de Menem que exerce o papel de primeira-dama, também esforça-se em adotar um comportamento menos ostensivo.
Depois do escândalo que provocou ao ser acusada de colar nas provas da universidade, foi passar as férias na Europa.
Em todas as viagens presidenciais, Zulemita se faz acompanhar da estilista Elsa Serrano. Ela tornou o guarda-roupa de Zulemita mais discreto.
"Viajo como amiga de Zulemita e como empresária. Mereço a confiança do presidente Menem, por isso acompanho Zulemita nas viagens", disse Elsa à Folha.

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