São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Money, money, money

CLÓVIS ROSSI

DAVOS (SUÍÇA) – Fiquei comovido com a decisão do governo brasileiro de emprestar ao México o meu dinheiro (e o seu também, leitor), sem me consultar. Por isso mesmo, acho bom explicar melhor a quem se destina o dinheiro.
Não é exatamente ao tal de povo mexicano. Um pouco vai para o Tesouro do país, para restaurar um mínimo de confiança. E muito vai para os investidores estrangeiros (norte-americanos especialmente) que se enterraram na crise mexicana. É a velha socialização do prejuízo.
Não é à toa que o mote com o qual congressistas dos EUA se opõem ao pacote de ajuda que Bill Clinton tenta vender é eloquente: "Financiar bilionários", gritam alguns congressistas (e nenhum deles, juro, é do PT ou do PC do B).
Para a sociedade mexicana vai sobrar, como é de praxe, pagar a conta. E de duas maneiras: via aumento da inflação, inevitável quando há uma abrupta desvalorização da moeda local, e via redução da atividade econômica, o que certamente gerará mais desempregados e subempregados.
Aliás, esse é um mal crônico da economia mexicana, não eliminado nem reduzido pela "modernização", um detalhe que os arautos do neoliberalismo esqueceram de contar enquanto entoavam loas sem fim ao modelo mexicano.
De todo modo, nada contra o auxílio ao México. No mínimo, evita que o populacho pague um preço ainda maior e que a crise se estenda a outros países, entre os quais o Brasil.
Mas sempre é bom aprender que a abertura da economia não significa apenas poder importar reluzentes bugigangas eletrônicas ou equipamentos indispensáveis para a modernização da indústria. Significa que se pode importar também inflação.
Mas o mais importante a aprender com a crise é o sentido real do mundo contemporâneo, exposto com uma crueza provavelmente inédita. Quando é o dinheiro que está ardendo, há toda essa zoeira, todo esse empenho em socorrer o pobre "país irmão".
Agora, quando são seres humanos...

Texto Anterior: Congresso novo
Próximo Texto: Operação de guerra
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.