São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 1995
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Operação de guerra

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Tenho recebido cartas, fac símiles e telefonemas de leitores preocupados com as revelações da Folha sobre a produção de medicamentos. Reconheço: as reportagens produziram um efeito colateral negativo. Muita gente (inclusive este colunista) ficou desconfiada de todo e qualquer remédio. Daí a necessidade de uma operação de emergência.
Lamento dizer: se as dicas que tenho recebido de farmacêuticos e dos próprios empresários do setor estiverem corretas, estamos apenas no começo. Afinal, são 20 mil tipos de remédios, muitos deles, na palavra do próprio presidente da Associação das Indústrias Farmacêuticas, José Eduardo Bandeira de Mello, feitos por "bandidos".
Ele chegou a propor a esta coluna a seguinte idéia: que os donos de laboratórios que fabricam remédios que comprometeram a saúde de alguém sejam processados por tentativa de homicídio. Ótima idéia.
Diante da natural desconfiança dos consumidores, o Ministério da Saúde e as secretarias estaduais só têm uma alternativa: uma operação de guerra. Uma operação urgente envolvendo todas as faculdades de farmácia do país e centros de pesquisa.
Meta: não apenas recadastrar todos os principais laboratórios, mas analisar todos os principais remédios no mercado –aliás, as empresas sérias do setor (e há muitas delas, claro) querem sair da suspeita e, na terça-feira, em encontro no Ministério da Saúde, vão se propor a financiar a formação urgente de mão-de-obra, entre outras medidas, para apertar a fiscalização.
Ao mesmo tempo, o governo deve fazer publicar todos os remédios e laboratórios condenados. Poderia começar divulgando uma informação ainda mantida sob sigilo: uma ampla pesquisa realizada em todo o país com o nome de antibióticos à base de ampicilina condenados pelos pesquisadores.
PS – Sobre esse assunto, há pelo menos uma boa notícia a favor do presidente Fernando Henrique Cardoso –e, em nome da honestidade intelectual, somos obrigados a reconhecer. O Ministério da Saúde é dirigido hoje por um gigante moral como Adib Jatene. A seu lado, controlando a Vigilância Sanitária, está Elisaldo Carlini, considerado no meio acadêmico como um dos maiores pesquisadores sobre remédios no Brasil, cujos textos servem de referência mundial.

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