São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 1995
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Lula: o retorno

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Recentes escavações trouxeram a lume um espécime que andava desaparecido. Alguns o consideravam perdido para sempre, outros achavam que ele nem deveria ter existido, mas já que desaparecera, que desaparecido ficasse.
Os especialistas ainda não examinaram devidamente a peça encontrada. Suspeita-se que ela está em excelente estágio de conservação, apesar das convulsões da crosta política que a soterraram.
O achado não chegou a entusiasmar os entendidos e interessados. Seus adversários ignoram os mistérios que ele levou consigo, mas não o temem. Pelo contrário, acreditam que a Fênix renascida pode até aderir ao neoliberalismo e acabar qualquer coisa no novo governo. Tem-se como certo que participará de seminários, simpósios e colóquios. Será ouvido sobre as influências de Weber na Dieta de Weimar.
Seus amigos e aliados, pragmaticamente, pensaram que ele nunca renasceria das cinzas. Pelo menos um deles, o ministro Weffort, já embarcou na canoa oficial, achando que o poder é para quem pode. Enquanto o ministro pode, o bardo Gullar se sacode. Já é muito.
O governo nada teve com essa escavação. São outras as suas prioridades: acabar com a estabilidade, desvincular a Previdência do mínimo, jogar no lixo a legislação trabalhista que tanto infelicita a nação.
Bem verdade que as escavações trouxeram à luz do dia um líder que, ainda há pouco, prometia lutar por conquistas sociais ainda maiores do que as da Era Vargas. É possível que nos laboratórios do governo os técnicos e cientistas mais inseguros temam uma reincidência. Afirmam os entendidos que os dinossauros, ao se descongelarem e voltarem à ativa, serão exatamente iguais ao que eram, milhões de anos atrás.
Os companheiros da Fênix, cansados de perder, acham que já é tempo de aceitar a modernidade. O Muro de Berlim caiu –será essa, certamente, a primeira informação que darão à Fênix, tão logo ela seja restaurada e enviada a um ministério ou a um museu.

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