São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 1995
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EBOLA

SÉRGIO DÁVILA

Ele é implacável: em dez dias elimina suas vítimas, num quadro de decomposição física que só tem paralelo em filmes de terror. O supervírus, proveniente de macacos africanos, transformou-se numa estrela com o lançamento, nos EUA, de "The Hot Zone", que narra seus efeitos letais. O livro, que sai este ano no Brasil, já está sendo filmado por Ridley Scott. Você ainda vai ouvir falar muito de Ebola
Começa com uma dor de cabeça. Os olhos ficam vermelhos e rijos. Surge a febre. Perde-se a lucidez. Aparecem coceiras na pele, que amarelece e ganha feridas. Por baixo das chagas, a carne se rasga. O peito, os braços e o rosto cobrem-se de hematomas. O estômago regurgita vômito negro e sangue. Mais sangue brota por todos os poros e orifícios do corpo. Caem os cabelos, pedaços da língua, da garganta e da traquéia. Os genitais apodrecem. Com as convulsões, sangue contaminado é jorrado para todos os lados. O cérebro se liquefaz. Vem a morte.
Dura dez dias.
Fosse um conto de terror e pareceria exagero. É verdade. São os efeitos que sofre uma pessoa contaminada pelo vírus Ebola, recente descoberta dos cientistas. Seu primeiro estrago se deu em 1967, na cidade de Marburgo, na Alemanha. Nos anos 70, dizimou povoados em três países da África. Em 1989, apareceu a 10 quilômetros de Washington, capital dos Estados Unidos (numa versão mais leve, só matou macacos). Há dois anos, ressurgiu na Itália, em circunstâncias ainda não divulgadas.
Pouca gente ouviria falar do Ebola se o escritor norte-americano Richard Preston, hoje milionário, não tivesse lançado o livro "The Hot Zone" há quatro meses. O best-seller conta a história do vírus em ritmo de thriller, mas com um realismo desconcertante. Chega este ano ao Brasil, está sendo filmado por dois grandes estúdios de Hollywood e é tema de um documentário atualmente exibido pela Globosat.
Incurável, sem controle e de origem duvidosa, o Ebola é sim um pesadelo. Restrito, porém. Por que o temor e o interesse?
Porque os anos 90 marcam a entrada do mundo na era dos supervírus. Letais, desconhecidas e virtualmente indestrutíveis, estas entidades tomaram o lugar do câncer e das doenças do coração na lista de preocupações de cientistas, médicos e pessoas comuns do mundo inteiro. Todos tentam responder a pergunta: onde vai surgir o Ebola da próxima vez? E como detê-lo?

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